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Futebol se alia à economia

Futebol e banco de desenvolvimento encontraram terreno comum no primeiro seminário do Banco Interamericano de Desenvolvimento sobre esportes e desenvolvimento, realizado em Washington, D.C. em maio.

A lista de participantes do evento era impressionante, a começar por Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé, o maior jogador de futebol do mundo. A seu lado, um dos mais famosos torcedores de futebol, o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger.

Entre os oradores estavam os presidentes das confederações de futebol da América do Sul, América do Norte e do Caribe; Don Garber, Comissário da Liga Profissional de Futebol dos Estados Unidos; e altos executivos de empresas internacionais de marketing esportivo que ajudaram a transformar o futebol num grande negócio no mundo industrializado.

"O futebol é um esporte com dimensões múltiplas", disse aos participantes o Presidente do BID Enrique V. Iglesias. "Oferece oportunidades devido ao retorno econômico, mas é também um esporte cuja popularidade transcende as fronteiras de classe, raça, religião, sexo e formação acadêmica." Por essa razão, "o futebol é um importante instrumento para o desenvolviento regional e a integração", afirmou Iglesias.

 O embaixador do esporte mais famoso do Brasil encontra o entusiasmo dos fãs na frente da sede do BID em Washington. (Foto: David Mangurian - IDB)

Segundo os participantes, o futebol na América Latina tem sido vítima da instabilidade política, das crises financeiras e tensões sociais da região. Embora tenham vencido tantas copas do mundo quanto os times europeus, os países da América do Sul só obtiveram vantagens econômicas mínimas apesar de sua preponderância no campo.

Segundo participantes do seminário, a América Latina pode fazer muito para tornar o futebol um negócio lucrativo. Pelé, por exemplo, vê potencial para transformar o futebol numa grande indústria, bastando seguir o roteiro escrito nas últimas décadas pelas ligas profissionais da Europa e dos Estados Unidos.

Mas Pelé -- que veio de uma pobreza extrema e se tornou um dos atletas mais bem pagos do mundo e mais tarde ministro dos Esportes no Brasil -- também ressaltou o papel dos esportes na promoção social, assim como no desenvolvimento econômico.

"Nos Estados Unidos, a indústria do esporte gera cerca de 4% do PIB. Na América Latina, mal representa 1% do produto. Se conseguíssemos chegar a 2%, criaríamos um grande número de empregos e oportunidades", disse ele.

Mas Pelé acrescentou que, embora a América Latina aceite rapidamente mudanças em áreas tais como tecnologia, continua a considerar o futebol como um passatempo comandado pela pura paixãoe não por um planejamento racional. Os clubes de futebol da América Latina são normalmente dirigidos como organizações sem fins lucrativos. As grandes equipes podem ter um desempenho sensacional no campo, mas os clubes freqüentemente estão à beira da falência. Para evitar a ruína, eles muitas vezes vendem o passe de seus melhores jogadores a times mais ricos de outros países. Em alguns casos, acabam até se envolvendo em transações financeiras duvidosas ou ilícitas.

Uma das principais metas de Pelé enquanto ministro dos Esportes foi tornar profissional a gestão dos clubes de futebol no Brasil. "Se você tem profissionais dirigindo o esporte como uma empresa, é muito mais fácil erradicar a corrupção. Os administradores profissionais têm que arcar com a responsabilidade e prestar contas de todo dinheiro que é gasto", disse ele.

Segundo Pelé, as federações de futebol da América Latina não são muito mais bem administradas do que os clubes. Mesmo tarefas supostamente simples, como a organização de um calendário de partidas, pode se transformar num empreitada intimidadora em muitos países.

Apesar disso, há sinais encorajadores de mudança. Uns poucos clubes brasileiros começaram a escolher o modelo de gestão adotado pelos times profissionais da Europa. O Flamengo do Rio de Janeiro assinou um contrato de gestão com ISL, empresa de marketing esportivo, e o Corinthians de São Paulo trouxe duas empresas americanas como sócias, The Muller Sports Group e a empresa privada de investimento Hicks, Muse, Tate & Furst.

Ao associar-se a empresas sólidas para cuidar da parte financeira, os clubes podem se concentrar no que fazem bem: treinar equipes para ganhar. Enquanto isso, empresários com tino comercial podem cuidar de negociar contratos lucrativos com emissoras de rádio e televisão, empresas de publicidade, patrocinadores e companhias interessadas em licenças de comercialização.

No entanto, o modelo do esporte como negócio pode não gerar resultados excepcionais em todos os países. Heinz Schurtenberger, presidente da empresa suíça ISL, observou que em seu próprio país os principais jogadores de futebol ganham uma fração do que seus colegas recebem nas ligas inglesas, italianas ou espanholas.

Como o BID se encaixa nesse cenário? No encerramento da conferência, Iglesias disse que o Banco teria que elaborar seu próprio esquema de jogo antes que pudesse desempenhar um papel mais amplo. Mas observou também que o futebol parecia se encaixar naturalmente nos diversos programas sociais que o BID promove na região, especialmente nos programas para crianças e jovens em risco que ajuda a financiar em mais de 30 cidades.

Em parceria com clubes e outras organizações da sociedade civil, esses programas poderiam ser expandidos para incluir esportes, que, como enfatizou Pelé, pode ser uma das melhores estratégias para que as crianças não se metam em dificuldades.

Do ponto de vista comercial, Iglesias observou que o BID apóia empreendimentos lucrativos através de seu próprio departamento do setor privado e da Corporação Interamericana de Investimentos, bem como de empréstimos canalizados por meio de bancos nacionais de desenvolvimento na região. Estes poderiam ser fontes potenciais de financiamento para clubes administrados por profissionais.

As autoridades do futebol responderam com presteza ao interesse do Banco. O primeiro pedido veio da Federação de Futebol da Costa Rica, que gostaria do apoio do BID para a criação de um centro regional de treinamento de futebol em San José.

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