Quando Felipe Reyes e Osvaldo Moizo formaram uma sociedade no início da década de 80 para cultivar maçãs e pêras na região de Melilla, perto da capital uruguaia de Montevidéu, não imaginavam que teriam de competir com produtores do mundo todo.
Mas os anos 90 trouxeram a nova era dos mercados abertos, nos quais até mesmo agricultores de porte médio, como Reyes e Moizo, têm de se manter a par das últimas inovações técnicas e das exigências do consumidor. Para sua fazenda Zanja Honda, de 39 hectares, prosperar, eles teriam de aprender sobre as melhores variedades de plantas para o cultivo, conhecer os últimos sistemas de produção e procurar compradores em seu país e no exterior.
Felizmente, um dos principais países produtores de frutas do mundo estava praticamente ao lado, e assim Reyes e Moizo viajaram para o Chile em uma missão de exploração. De volta à casa, aplicaram o que tinham aprendido com tamanho sucesso que sua operação chamou a atenção de funcionários do Ministério da Agricultura do Uruguai, envolvidos em uma nova iniciativa conhecida como Programa de Reconversão e Desenvolvimento de Granjas (Predeg). O programa, financiado pelo BID, foi implementado para oferecer apoio a propriedades produtoras de pequeno e médio porte, como a Zanja Honda, e a agroindústrias e sementeiras.
Em poucos anos, o Predeg outorgou a Reyes e Moizo um prêmio pela inovação e qualidade, citando em particular o seu êxito na integração da produção e da comercialização. "Esses produtores se destacam por sua capacidade tecnológica e pela administração de seu negócio", declarou Carlos Sammarco, chefe do Predeg, na cerimônia de premiação.
Estimulados, Reyes e Moizo partiram para a transformação de seus pomares tradicionais em plantações de alta densidade com variedades de crescimento rápido e maturação precoce, que trariam como resultado maior produção e menos frutas danificadas. Com financiamento do Predeg, Reyes e Moizo viajaram para Itália, França e Espanha a fim de conhecer novas variedades de frutas de melhor sabor, cor e textura e tomar o pulso de mercados potenciais.
"A viagem marcou o ponto de partida para uma nova abordagem no cultivo de frutas, uma viagem para o futuro", relembra Reyes. E acrescentou: "Os produtores de frutas do futuro são pessoas que podem se adaptar rapidamente a mudanças com novas variedades e sistemas de produção inovadores. É a única maneira."
Logo em seguida à viagem, os dois sócios se juntaram a um grupo de outros agricultores uruguaios para importar 12.000 mudas de macieiras híbridas australianas de um fornecedor no Brasil. A nova variedade, conhecida como "Pink Lady", foi desenvolvida especificamente para o plantio de alta densidade e maturação precoce e é firme e saborosa.
"As coisas estão mudando de forma tão rápida que dentro de dois anos não teremos mais nenhuma das árvores que tínhamos quando ganhamos o prêmio do Predeg", diz Reyes. As grandes macieiras de antes, plantadas com um espaço tradicional entre elas, começavam a frutificar somente depois de cinco anos, produzindo em torno de 15 caixas por árvore. Com a nova variedade, 15 árvores pequenas e de maturação rápida são plantadas no mesmo espaço que seria ocupado por uma única árvore no sistema de produção anterior. Cada nova árvore produz uma caixa de frutas a um custo muito menor e qualidade superior em um período bem mais curto de tempo.
"É incrível, mas as maçãs que tenho na minha mesa hoje são os primeiros frutos de uma árvore que plantamos há três meses", disse Reyes. Mas, embora seja bem recebida igualmente por produtores e consumidores, a variedade Pink Lady acarreta ônus. O Ministério da Agricultura da Austrália recebe royalties para cada árvore adquirida. Outros pagamentos devem ser feitos à Associação de Exportadores de Pêra e Maçã da Austrália por cada maçã vendida. Mesmo assim, com o uso das últimas variedades e dos últimos sistemas de produção, Reyes e Moizo hoje estão em igualdade de condições na competição.
O programa do Predeg que ajudou Reyes e Moizo a se tornar competitivos chegou a um momento crucial no Uruguai. "Nosso setor agrícola está defasado", disse Sammarco, "e, depois que perderam a proteção tarifária, nossos produtores internos se tornaram vulneráveis à concorrência, particularmente da parte dos países vizinhos."
O Predeg trabalha atualmente com cerca de 3.000 agricultores organizados em 260 grupos de produtores, juntamente com 900 produtores individuais de frutas. Oferece treinamento aos agricultores e co-financia operações inovadoras, como o estabelecimento de novos plantios e sistemas de irrigação. O programa também proporciona assistência técnica e apoio à comercialização a cerca de 30 empresas agroindustriais e agentes comerciais e a 25 sementeiras. Em um programa piloto que agora inclui cerca de 200 produtores, o Predeg está ajudando os agricultores a reduzir o uso de agroquímicos com a introdução de métodos alternativos de controle de doenças.