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Ferramenta para o desenvolvimento

Carlos Jarque, cidadão mexicano, é gerente do Departamento de Desenvolvimento Sustentável do BID. Jarque é doutor em Economia e foi Ministro do Desenvolvimento Social no governo de Ernesto Zedillo. Foi também secretário do Plano Nacional de Desenvolvimento do México, presidente do Instituto Nacional de Estatística, Geografia e Informática do México e presidente da Comissão Interministerial de Finanças Públicas. Foi ainda o primeiro cidadão não europeu a ocupar o cargo de diretor do Instituto Internacional de Estatística desde a fundação desse organismo, em 1885.

BIDAmérica: Qual a importância atual do censo, especialmente na América Latina?

Os censos se tornaram poderosos instrumentos do desenvolvimento no século 21. Graças a novas tecnologias, já não são meras cifras agregadas, mas radiografias geográficas detalhadas, que têm uma utilidade muito maior. É nessas radiografias que os governos se baseiam para traçar suas estratégias de prestação de serviços e distribuição de recursos. Os censos são fundamentais também para a representação dos cidadãos nos órgãos legislativos. As empresas utilizam-nos para identificar mercados e os pesquisadores para desenvolver os seus estudos.

BIDAmérica: Qual a situação dos censos na região?

Varia muito. Há países que passam muito tempo sem fazer esse tipo de levantamento e outros que realizam censos a cada cinco anos. Alguns censos cobrem uma temática ampla e mobilizam grande capacidade de processamento; outros são muito mais limitados. Há defasagens muito grandes.

Esta situação representa um desafio fundamental, pois hoje em dia os censos constituem a coluna vertebral dos sistemas de informação. São eles que permitem acompanhar as condições econômicas e sociais dos países. Além disto, servem de base a projetos estatísticos complementares, nos quais a fotografia censitária passa a ser como um filme que permite acompanhar a conjuntura dos países no dia a dia: distribuição e densidade da população, migrações internas e externas, níveis de educação e emprego, produção, investimento, comércio e muitos outros dados essenciais para a sociedade.

Sem um bom exercício censitário, é impossível um diagnóstico preciso em que basear a estratégia de desenvolvimento. Por isso, o aperfeiçoamento dos censos é um objetivo prioritário da região.

BIDAmérica: A população latino-americana está consciente da importância do exercício censitário? Os cidadãos colaboram de forma efetiva?

Na América Latina o entrevistado tem uma atitude positiva quando sua colaboração é solicitada. Tradicionalmente, a população participa dos censos com grande interesse. Hoje, colabora por saber que as informações que fornece contribuem para a satisfação das necessidades imediatas e permitem às gerações futuras analisar o passado.

BIDAmérica: O México é um bom exemplo de país com uma porcentagem considerável de população indígena. Como especialista nesse campo, poderia explicar a nossos leitores de que forma os censos mexicanos abordam esse tema?

No México o tema indígena é prioritário. É também fonte de preocupação, devido às condições em que vivem muitos indígenas: nível de analfabetismo quatro vezes superior ao nível nacional, metade da média de escolaridade, quatro vezes mais carência de serviços e dobro da mortalidade infantil. E os indígenas constituem 10% da população mexicana. Na década de 1990, realizou-se uma reforma para modernizar o sistema de informações, o que se traduziu em novos projetos. No censo do ano 2000, em particular, foram incorporados novos temas, relacionados com a cultura, com a forma como as pessoas se identificam, com suas formas de organização, suas atividades artesanais, o uso do tempo e muitos outros, que ajudam a traçar um retrato fiel e detalhado de nossos povos indígenas e adequar as estratégias de políticas públicas.

BIDAmérica: É verdade que as populações que não aparecem no censo ficam marginalizadas na agenda do governo de um país?

É importante alcançar as comunidades mais isoladas. Hoje é possível fazer imagens por satélite ou fotografias aéreas e assim descobrir as populações mais afastadas. E isso é essencial para que ninguém fique excluído do censo nem dos programas baseados nele.

Dou um exemplo. Num município mexicano, um grupo de indígenas de certa comunidade ia de vez em quando à sede do governo local para reivindicar alguma coisa – uma escola, uma estrada, um hospital. Assim foram conseguindo os serviços de que necessitavam. Enquanto isso, outras comunidades, com carências iguais ou maiores, não podiam sequer se dar ao luxo de viajar à sede do município, pois eram pobres demais; por isso não tinham como fazer chegar suas reivindicações às autoridades.

O censo coloca a todos em posição de igualdade. Por meio dos censos os países podem e devem identificar a totalidade da população, sem excluir ninguém, e atender eqüitativamente às necessidades de todos.

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