No final de década de 1950, quando a primeira gravação de bossa nova na voz do ícone João Gilberto chegou às rádios do Brasil, um adolescente no Rio de Janeiro sentiu o desejo urgente de aprender a tocar violão. Sua mãe encontrou um parente cujo filho universitário, um certo Roberto Menescal, dava aulas do instrumento. O professor, que viria a se tornar um dos maiores compositores da bossa nova, é hoje um dos personagens principais do documentário de seu aluno, o cineasta e roteirista Paulo Thiago.
Em Coisa mais linda: história e casos da bossa nova, Menescal e o criativo compositor Carlos Lyra contam as histórias das pessoas, lugares e apresentações que colocaram a música brasileira no cenário musical internacional no início da década de 1960, culminando com um concerto no Carnegie Hall, em Nova York, em 1962. O filme foi apresentado em 24 de abril, no Centro de Conferências Enrique V. Iglesias do BID, como parte do FilmFestDC, o festival internacional de cinema de Washington, D.C., atraindo um público que lotou a sala de exibição.
Revolução na música popular brasileira. O título do documentário, Coisa mais linda - história e casos da bossa nova é uma homenagem a uma canção composta por Carlos Lyra e gravada por João Gilberto (Coisa mais linda). Como em muitas das canções da bossa nova, a letra, escrita pelo aclamado poeta Vinícius de Moraes, exalta a beleza de uma mulher, de estar apaixonado e do próprio amor. A bossa nova reagiu ao tema tradicional do “Ninguém me ama, ninguém me quer”, falando de praia, mar e amor, explica Menescal no filme. A música extrai seu som singular de uma batida de samba renovada, uma melodia harmoniosa e letras alegres, positivas, emitidas quase num sussurro.
Menescal e Lyra conduzem os espectadores num passeio por Copacabana, bairro logo ao sul do centro do Rio, onde os dois cresceram, estudaram e fizeram música. Cheio de histórias pitorescas e ricamente ilustrado com interpretações ao violão em salas de estar e praias ensolaradas, além das imagens em salas de concertos, o filme tem uma atmosfera intimista e informal, ao mesmo tempo que documenta amplamente o estilo musical.
Por exemplo, Menescal conta a história de sua canção mais famosa, O Barquinho. O que deveria ser um agradável passeio de barco com os amigos sofreu uma reviravolta alarmante quando o motor quebrou e o grupo ficou à deriva no mar. Menescal tentou amenizar a situação dedilhando uma melodia alegre em seu violão, que ele parece ter sempre consigo. Por fim, outro barco apareceu e os rebocou até a costa. No dia seguinte, Menescal acrescentou uma letra despretensiosa sobre um barco navegando num tranqüilo dia de verão ao cair da tarde.
Os artistas. O filme inclui imagens atuais e de arquivo de apresentações e entrevistas com grandes nomes da bossa nova, como Antônio Carlos (“Tom”) Jobim, seu filho Paulo, e Astrud e João Gilberto. Destaca também uma série de outros artistas menos conhecidos fora do Brasil, entre eles a celebrada musa Nara Leão, a revolucionária violonista Wanda Sá, a cantora Joyce e Newton Mendonça, colaborador de Vinícius. Também aparecem Johnny Alf, João Donato, Oscar Castro Neves, Bebeto, Leny Andrade e Ronaldo Bôscoli. Os jornalistas brasileiros Tárik de Souza e Nelson Motta e o escritor Arthur da Távola acrescentam informações sobre a história e o estilo característico da música. Os espectadores saíram da exibição de duas horas do filme com um conhecimento muito mais profundo de todo o cenário da bossa nova e com um enorme desejo de escutar mais de suas deliciosas canções.
Durante a sessão de perguntas e respostas depois da exibição, Paulo Thiago enfatizou que, embora o filme seja um documentário, ele não quis fazê-lo muito formal, por isso deu a ele um tom de conversa. Os músicos são mostrados tocando juntos em salas de estar e conversando na praia, ligando o ritmo da bossa nova ao som das ondas ao fundo.
“Coisa mais linda” foi lançado no Brasil em setembro de 2005, mas ainda não encontrou um distribuidor nos Estados Unidos, disse Thiago. A exibição no BID foi possibilitada por uma parceria entre o Centro Cultural do BID, a Embaixada do Brasil e o FilmFestDC para homenagear o Brasil, sede da Reunião Anual do BID em abril.
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