BELO HORIZONTE, Brasil – O Banco Interamericano de Desenvolvimento lançará uma iniciativa para o crescimento econômico com base ampla na América Latina e no Caribe, voltado para a população de baixa renda da região, uma maioria que tem vivido historicamente marginalizada do progresso.
Na abertura do seminário sobre formas inovadoras de fornecer bens e serviços de qualidade acessíveis à maioria da população da região, o Presidente do BID, Luis Alberto Moreno, declarou hoje: “Se há uma questão na qual queremos colocar muita energia, esta é ela”.
Moreno, que assumiu a presidência do BID em outubro de 2005, acredita que a região necessita de enfoques novos para enfrentar a exclusão econômica e social enraizada, que mantém centenas de milhões de pessoas presas a baixos padrões de vida. Embora a renda latino-americana per capita tenha aumentado 95% desde 1960, os níveis de pobreza e desigualdade mal se moveram.
Como resultado da distribuição extremamente desigual de oportunidades e ativos econômicos, a maioria das pessoas na América Latina e no Caribe tem acesso limitado ao que necessitam para ganhar a vida decentemente. O combate a esses problemas exigirá uma combinação de esforços enérgicos por parte do setor privado, da sociedade civil e dos governos.
O orador principal do seminário, professor C.K. Prahalad, da Universidade de Michigan, autor de The Fortune at the Bottom of the Pyramid: Eradicating Poverty through Profit, destacou que para superar a pobreza e construir prosperidade, todos devem ter acesso aos benefícios da economia global.
Prahalad, para quem os pobres devem ser tratados como consumidores e produtores e não como casos de caridade, disse que sua proposta não é tão utópica quanto pode parecer. Como indicou o professor, há 50 anos a maioria das pessoas no mundo vivia sob regimes coloniais ou comunistas.
“Democratizar o comércio será o desafio real do século XXI, como democratizar a política foi o grande desafio do século XX”, acrescentou ele, em seminário realizado antes da reunião anual da Assembléia de Governadores do BID, que acontecerá nesta cidade, de 3 a 5 de abril.
Mas para alcançar a maioria na base da pirâmide econômica, o setor privado deve encontrar formas de atender às necessidades da maioria excluída. Prahalad citou exemplos de como empresas na Índia e no Brasil obtiveram sucesso na criação de mercados para clientes de baixa renda, fornecendo-lhes bens e serviços de alta qualidade a preços acessíveis.
Prahalad recomendou, ainda, que os países da América Latina e do Caribe não busquem soluções no exterior, mas que encontrem fontes de inovação dentro de suas próprias fronteiras.
A iniciativa do BID de crescimento com base ampla será lançada nos dias 11 a 13 de junho, durante uma conferência em Washington, D.C., na qual será apresentado um “Atlas econômico da maioria”, com estatísticas sobre populações de baixa renda na América Latina e no Caribe.
A iniciativa focalizará algumas áreas prioritárias, nas quais o BID pode fazer a diferença, tais como a ampliação do acesso de populações de baixa renda a serviços financeiros formais, aproveitando a experiência do microcrédito.
Uma outra área de relevância será a melhoria do acesso a infra-estrutura básica, tais como energia elétrica, estradas e redes de água e esgoto, especialmente fora das áreas urbanas. Diminuir a “exclusão digital” por meio do acesso a tecnologias da informação e da comunicação financeiramente acessíveis também será uma meta. Nessa área, as empresas de telefonia celular deram um exemplo de como atender a clientes pobres em nações em desenvolvimento.
O BID também pretende trabalhar com os países membros para melhorar seu clima empresarial, enfrentando obstáculos que impulsionam os empresários para a economia informal e os impedem de crescer e gerar mais emprego. O Banco também fomentará parcerias entre pequenas e grandes empresas que buscam desenvolver novas oportunidades de mercado na “base da pirâmide”.
Habitação é um setor de particular interesse, dado o seu potencial para estimular a atividade econômica e gerar emprego. Os projetos nessa área poderiam incluir a expansão do acesso a lotes com serviços básicos, a titulação de propriedades e o financiamento de hipotecas.
A iniciativa do BID "Construir Oportunidades para a Maioria" crescerá gradualmente, começando com projetos capazes de ter fortes efeitos demonstrativos e trabalhando com os setores público e privado, bem como com organizações da sociedade civil.