RIO DE JANEIRO - Mais de 100 representantes e especialistas internacionais que participam da conferência "Programas municipais para prevenção e tratamento da violência" assistiram nesta cidade à apresentação de um vídeo e um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento sobre a magnitude do fenômeno da violência e seu impacto negativo sobre a qualidade de vida e o desenvolvimento da América Latina e do Caribe.
O vídeo, intitulado "O caminho para a paz: viver sem violência", visa conscientizar a opinião pública e os governos sobre a possibilidade de prevenir e tratar o grave problema da violência, que aumentou cerca de 40% na região durante a última década, medida segundo o índice de homicídios.
"A violência não é um problema inevitável, pode e deve ser prevenida", disse o presidente do BID Enrique V. Iglesias. "Sem respeito e convivência pacífica não pode haver um desenvolvimento pleno, porque o desenvolvimento vai além do crescimento econômico, requer justiça social e consolidação da democracia e dos direitos humanos."
O vídeo mostra as diferentes faces da violência nas cidades, mas também o êxito de muitas iniciativas de prevenção inovadoras e variadas.
As experiências indicam a importância das políticas multissetoriais amplas, concebidas com a participação de todos os setores da sociedade e enfocadas nos principais fatores de risco, tais como o acesso fácil às armas, às drogas e ao álcool.
Os cidadãos -- vítimas e perpetradores da violência --, especialistas, representantes e líderes dão seu testemunho sobre os esforços criativos para evitar que se reproduza o ciclo de violência, oferecendo em especial oportunidades às crianças e aos jovens, particularmente no nível municipal e da comunidade.
O ENFOQUE DO BID
"A América Latina está entre as regiões com maior nível de violência do mundo, com uma taxa de homicídios que é quase o dobro da média mundial", afirmou Mayra Buvini , chefe da Divisão de Desenvolvimento Sustentável do Banco. "Este problema é uma das principais preocupações dos cidadãos da região e um sério obstáculo ao desenvolvimento."
Segundo estudos realizados pelo BID em seis países, "os governos da região devem gastar entre 5% e 25% de seu produto interno bruto com tratamento da violência e suas conseqüências, recursos que poderiam ser dedicados a fins produtivos caso se conseguisse reduzir o problema a partir da origem", acrescentou Buvini .
Consciente da gravidade da questão da insegurança do cidadão e seu impacto sobre as economias da região, o BID começou nos últimos anos a pesquisar o tema e a trabalhar em programas de promoção da convivência e da segurança nas cidades.
O primeiro financiamento aprovado foi de US$57 milhões para um programa de apoio à segurança do cidadão na Colômbia, dando assistência à elaboração e implementação de políticas nacionais de promoção da paz em conglomerados urbanos e a projetos municipais.
Outro empréstimo de US$17,5 milhões ao Uruguai ajudou a estabelecer um programa inovador para fortalecer a capacidade de elaboração e implementação de políticas e projetos com uma estratégia multissetorial e participação da comunidade.
A violência doméstica, um fenômeno que até recentemente estava confinado ao domínio privado, tem suscitado um interesse crescente na sociedade, não somente devido às conseqüências humanas devastadoras , mas também por seus efeitos adversos sobre o desenvolvimento e o crescimento dos países.
Segundo pesquisas, entre 25% e 50% das mulheres latino-americanas sofrem algum tipo de violência no lar e estudos do BID comprovaram que em alguns países somente a redução da renda dessas vítimas devido ao abuso foi equivalente a cerca de 1,6% a 2% do produto interno bruto.
As repercussões se ampliam se se consideram os gastos requeridos pelas vítimas com serviços de saúde, justiça e polícia, além de outros custos indiretos. Talvez o mais preocupante sejam os efeitos sobre as crianças, que são vítimas da violência e aprendem com ela no lar e na comunidade.
O Banco financiou estudos sobre o impacto socioeconômico da violência doméstica, um vídeo, debates televisados e programas-piloto para treinamento de juízes e a criação de redes integradas de prevenção e tratamento. Outros estudos em seis países investigaram os custos da violência social para o indivíduo e a sociedade.
"A violência não é um problema fatal, mas para reduzi-la necessitamos atuar já", disse o presidente do Banco em sua mensagem de encerramento do novo vídeo. "Os governos devem tomar a iniciativa e trabalhar em comum com a sociedade civil, o setor privado e os meios de comunicação para assegurar os direitos, a saúde e o bem-estar econômico dos cidadãos. O BID apóia esses esforços."