As instituições de microcrédito da América Latina e do Caribe precisam se envolver no negócio de remessas, de forma a oferecer serviços financeiros a milhões de novos clientes de baixa renda, declararam vários especialistas às vésperas da abertura do Fórum Interamericano de Microempresas em Cartagena, na Colômbia.
Donald F. Terry, gerente do Fundo Multilateral de Investimentos do BID, salientou que os bancos comerciais já estão entrando nesse mercado, que tem sido tradicionalmente dominado por empresas de transferência de valores. Os grandes bancos já começam a manifestar interesse no microcrédito como uma linha de negócios potencial, acrescentou Terry.
“O futuro está na vinculação entre microcrédito e remessas”, declarou Terry em um seminário organizado pelo Fumin. “Por isso eu estou sugerindo, desafiando-os, implorando-lhes que se envolvam nesse negócio porque, caso contrário, os grandes bancos irão fazê-lo. Tudo bem, exceto pelo fato de que eles deveriam ser seus clientes.”
Segundo estimativas do Fumin, a América Latina e o Caribe deverão receber US$40 bilhões em remessas no corrente ano. A maior parte do dinheiro está sendo enviada por emigrantes que vivem na América do Norte e na Europa. Para muitos países latino-americanos, as remessas representam a principal fonte de divisas estrangeiras, superando suas exportações tradicionais, o investimento direto estrangeiro e a cooperação internacional.
Algumas instituições de microcrédito da América Latina já estão ativamente envolvidas na área de remessas. Nancy Barry, presidente da rede Women’s World Banking, mencionou o caso do Banco Solidario do Equador que, no espaço de apenas alguns anos, já distribuiu cerca de 10% das remessas enviadas por equatorianos que vivem na Espanha.
O Banco Solidario, que presta serviços principalmente a micro e pequenas empresas, firmou acordos com grandes cooperativas de crédito e poupança da Espanha, com o objetivo de oferecer serviços de remessa mais econômicos. A instituição também desenvolveu serviços financeiros destinados especificamente às pessoas que enviam e recebem remessas. Um desses serviços é um empréstimo imobiliário, que permite aos equatorianos que vivem na Espanha adquirir imóveis em seu país natal sem a necessidade de registrá-los em nome de terceiros.
Há casos bem sucedidos na Bolívia, em El Salvador, no Haiti e no México. Entretanto, a América Latina não desenvolveu o vínculo entre remessas e microcrédito com a mesma intensidade da Índia ou das Filipinas. Apenas uma porcentagem ínfima de remessas para a América Latina passa pelas instituições financeiras. Conseqüentemente, observou Barry, a região está perdendo incontáveis oportunidades de oferecer a milhões de pessoas acesso a serviços como poupança, cartões bancários, microcrédito e empréstimos para a aquisição de casa própria.
Pesquisa sobre remessas
No mesmo seminário, a firma de pesquisa de opinião pública Sergio Bendixen apresentou um estudo encomendado pelo Fumin sobre remessas para a Colômbia. Segundo os resultados da pesquisa, cerca de 4 milhões de colombianos recebem remessas regularmente. Neste ano, o país deverá receber cerca de US$4,5 bilhões em remessas, valor que ultrapassa suas exportações de petróleo.
Diferentemente dos emigrantes de outros países latino-americanos, os colombianos tendem a deixar seu país sem planos de enviar dinheiro para suas famílias, somente começando a fazê-lo após haverem se fixado em seu país de destino. O número de pessoas com educação superior e conta bancária que recebem remessas também é maior na Colômbia do que nos demais países da região.
Entre os convidados que participarão do Fórum Interamericano de Microempresas estão o Presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, e o Presidente do BID, Enrique V. Iglesias, que farão a entrega dos prêmios anuais do BID às instituições que se destacaram por seu apoio ao desenvolvimento de microempresas na região.