Maricela Gamboa, diretora executiva da organização de microfinanças Grameen Chiapas, afirma que perdeu 10 quilos durante os anos aparentemente infindáveis que passou brigando (palavras suas) com o BID para se qualificar para um empréstimo. Nesse período, seu adversário foi Javier Rowe, um especialista em operações do escritório do Banco na Cidade do México. Hoje, ambos se alegram em dizer que isso são águas passadas. Gamboa recebeu Rowe em seu escritório em San Cristóbal de las Casas com um amplo sorriso e um beijo em cada face. Por seu lado, Rowe só tem elogios para Gamboa e a Grameen e o que conseguiram realizar para ajudar milhares de mulheres muito pobres do estado de Chiapas, no sul do México, a aumentar sua produção e elevar sua auto-estima. Rowe conversou com Roger Hamilton, da BIDAmérica.
BIDAmérica: Qual é, para o senhor, a lição mais importante que se pode tirar da experiência da Grameen com o BID?
Rowe: A principal lição é que o crédito deve ajudar as pessoas a progredir, a aumentar sua auto-estima. Os clientes não devem ser tratados simplesmente como mutuários, mas como parceiros e amigos.
BIDAmérica: Por que levou três anos para que o BID concordasse em financiar a Grameen?
Rowe: Na verdade, levou um pouco mais de quatro anos. A Grameen achou que estava qualificada, mas a realidade é que a organização precisava de mecanismos financeiros e de crédito mais sólidos.
As sete sucursais da Grameen levam o programa de crédito para a população.
BIDAmérica: Então havia muito a aprender. Como isso foi feito?
Rowe: Com persistência e atenção às nossas recomendações. Eu lhes apresentei o nome de um consultor, uma pessoa excelente e com muita experiência, que trabalhou com eles por dois meses, todos pagos pela Grameen.
BIDAmérica: Então, em vez de se irritarem e continuarem a seguir seu próprio caminho, eles se propuseram a mudar.
Rowe: Exatamente. Nossos amigos da Grameen sempre agiram de uma maneira muito positiva. Eles receberam as críticas do Banco construtivamente. Em particular, tiveram de adaptar algumas das práticas da Grameen original de Bangladesh, que não eram adequadas para Chiapas. Em Bangladesh, eles dão muita atenção aos aspectos sociais dos programas de crédito, o que representa um gasto operacional enorme. Tudo o que se refere a criar e administrar grupos é muito caro. De qualquer forma, as populações indígenas de Chiapas estão interessadas em ação e produção, não em capacitação de grupos. Claro que os grupos precisavam de alguma capacitação, mas não tanta. Portanto, nossa recomendação, da qual eles não gostaram muito, foi que esquecessem esses programas que não estavam produzindo resultados e passassem direto a um programa de crédito sólido baseado em práticas financeiras sólidas.
BIDAmérica: Isso lhe parecia uma maneira de alcançar auto-suficiência?
Rowe: A auto-suficiência é básica em qualquer operação de crédito em que a receita normal dos pagamentos dos empréstimos deve cobrir os custos e as despesas operacionais, os pagamentos do empréstimo do BID, e ainda deixar alguma sobra para capitalização, ao menos para cobrir os custos da inflação.
A Grameen aprendeu muito bem suas lições. Alcançou auto-suficiência operacional e ampliou seu quadro de funcionários, o número de sucursais e o tamanho de sua carteira. Quando fizemos contato com a Grameen pela primeira vez, a organização possuía uma carteira de um milhão de pesos. Em apenas quatro anos e meio, o montante cresceu para cerca de 30 milhões de pesos.
Posso dizer que Maricela foi nossa aliada número um, persistente, obstinada e determinada a sempre fazer o melhor. Ela tomou para si a responsabilidade de obter o apoio das pessoas dentro da Grameen, que são o maior recurso do grupo e que estão totalmente comprometidas com seu trabalho.
BIDAmérica: O senhor está orgulhoso da Grameen?
Rowe: Como eu não estaria orgulhoso? Quando conheci a Grameen, ela não era quase nada, e hoje o que vemos é inacreditável. Tenho muito orgulho da Grameen Chiapas.