Esta arte não admite a introspecção lúgubre nem comporta divagações de artistas concentrados em si mesmos. É decididamente uma arte caribenha, vibrante, festiva, eclética, cheia de idéias visuais tiradas da rica paleta de influências culturais e históricas que tornaram esta região uma delícia para os viajantes e uma inspiração para os artistas.
A última mostra do Centro Cultural da sede do BID em Washington, D.C., "Mistério e Misticismo na Arte Dominicana", faz um apanhado de uma tradição artística que é totalmente moderna em seus meios de expressão, mas ao mesmo tempo está ancorada nas tradições locais.
Essa mostra focaliza as três principais correntes históricas da arte dominicana: a dos antigos tainos e suas deidades e mitologia; a arte folclórica, imbuída de misticismo religioso; e os artistas modernos, entre eles oito pintores.
"Os artistas dominicanos tendem a apropriar-se de idéias de diversas procedências e recriá-las", escrevem Marianne de Tolentino, historiadora da arte dominicana, e Félix Angel, curador do Centro Cultural do BID, no catálogo da exposição. "Almejam alcançar uma expressão que seja tanto evocativa do passado quanto característica dos nossos dias."
O fundamento histórico da arte e da cultura dominicanas é bastante semelhante ao dos outros países do Caribe. Os índios tainos foram em determinado momento dominados pelos agressivos arawaks, os quais por sua vez foram conquistados pelos europeus, nesse caso os espanhóis. A seguir se deu a chegada dos escravos da çfrica. Na República Dominicana, as guerras entre Espanha, Holanda, Inglaterra e França adicionaram mais elementos à mistura étnica, mas contribuíram ao mesmo tempo para um período de pobreza geral e baixa vitalidade cultural.
Depois da independência em 1844, começou a se desenvolver um estilo nacional dominicano nas artes visuais que acompanhava o modelo europeu, mas incorporava muitas vezes temas nativos. Nos últimos anos, os artistas dominicanos passaram a buscar imagens no passado, como por exemplo a figura ancestral, geralmente representada por uma mistura de forma animal e humana. Pesquisas e descobertas arqueológicas continuam a servir de fonte de idéias e imagens.
O legado africano é particularmente forte na arte e na cultura dominicanas, expressando-se em cores brilhantes, na representação esquemática da figura humana e na tendência a preencher o fundo da tela com detalhes. Nos últimos 30 anos, também se fez sentir a influência dos Estados Unidos e da América do Sul. De modo geral, o efeito tem sido o de uma energia que incorpora à arte Ocidental "universal" temas locais pronunciados.
"A arte dominicana faz alusão ao drama e às experiências humanas, a fábulas, obsessões, sonhos ou fantasias", escrevem os autores do catálogo da mostra. Seu estilo pode ser relacionado aos principais movimentos artísticos do século 20, mas, segundo os autores, "o auto-expressionismo sempre vence".