Será que os meus filhos estão recebendo uma educação decente? Essa é uma pergunta que os pais fazem em qualquer lugar do mundo, sobretudo quando lêem os resultados de estudos internacionais que classificam os países com base nas respostas dos alunos a questões de compreensão de leitura ou problemas de matemática. Embora controvertidas, essas pesquisas sobre as realizações escolares dos alunos podem lançar luz sobre as suas deficiências e galvanizar apoio para reformas educativas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o desempenho insatisfatório em testes padronizados resultou recentemente em importantes iniciativas do governo para melhorar o ensino da matemática e das ciências.
Assim sendo, como se saem os alunos da América Latina e do Caribe nessas classificações? Até recentemente, era difícil conseguir uma resposta. Com poucas exceções, os países da região declinavam de participar de avaliações internacionais de resultados educacionais.
Mas agora, pela primeira vez, os cidadãos de 11 países tiveram uma rara oportunidade de ver como os seus sistemas escolares se comportam em relação a outros (ver os gráficos que acompanham este texto). Nos últimos cinco anos, em um esforço sem precedentes coordenado pela UNESCO e parcialmente financiado por uma subvenção de cooperação técnica de US$750.000 do BID, esses países participaram de um amplo estudo da capacidade dos alunos das terceira e quarta séries em língua e matemática. Os resultados desse Primeiro Estudo Comparativo Internacional, conduzido pelo Laboratório Latino-Americano da UNESCO para a Avaliação da Qualidade da Educação, foram divulgados em dezembro.
Os testes usados no estudo foram elaborados para refletir as metas e as realidades do currículo dos países participantes. Profissionais da área da educação de cada país apresentaram descrições detalhadas do que era ensinado na terceira e quarta séries e do que eles esperavam que os alunos aprendessem no final do ano escolar. As perguntas de língua e matemática foram elaboradas mediante um processo consensual, para que todos os países concordassem em que as questões eram adequadas.
Cerca de 4.000 estudantes de cada país responderam ao teste. As escolas participantes foram selecionadas para representar três categorias demográficas: cidades muito grandes (um milhão ou mais de habitantes), centros urbanos com menos de um milhão de pessoas e áreas rurais. Dentro das áreas urbanas, o estudo também distinguiu entre escolas públicas e privadas. Finalmente, os alunos, os professores e os pais das escolas participantes preencheram questionários suplementares sobre várias questões.
À primeira vista, os resultados do estudo são desoladores. Na média, os estudantes responderam corretamente a apenas 48% das questões de matemática e a 62% das questões de língua. (A UNESCO padronizou os resultados do teste de cada país e atribuiu o número 250 à média regional para as classificações combinadas das terceira e quarta séries. Os gráficos destas páginas mostram apenas os resultados da quarta série relativos à média regional.)
Com a exceção de Cuba, com pontos muito acima da média em todos os testes, os resultados foram surpreendentemente homogêneos em vista das amplas diferenças dos indicadores de desenvolvimento dos países participantes. Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México tiveram praticamente o mesmo desempenho em matemática e língua, enquanto Bolívia, Honduras, Paraguai, República Dominicana e Venezuela apresentaram resultados na média ou abaixo dela. O Peru e a Costa Rica participaram do estudo, mas não autorizaram a divulgação de seus resultados.
Como era de se esperar, os estudantes das áreas urbanas e das escolas particulares foram os de melhor desempenho. Mas os níveis de renda dos países tiveram impacto menor do que o esperado sobre os resultados educacionais: Cuba, com um dos níveis mais baixos de renda per capita da região, foi o país que se saiu melhor, enquanto a Venezuela, uma das maiores rendas per capita da região, teve um dos desempenhos mais fracos.
Embora os resultados do teste da UNESCO não possam ser comparados com precisão a outros testes internacionais, a situação que os fatos colocam a descoberta é constrangedora. A Colômbia, por exemplo, foi um dos dois únicos países latino-americanos a participar do Terceiro Estudo Internacional de Matemática e Ciência (TIMSS) em 1996 (o México participou mas não autorizou a publicação dos seus resultados). Entre os 42 participantes do TIMSS, a Colômbia se classificou em 41º lugar, e apenas 4% dos alunos colombianos da oitava série obtiveram resultados classificados entre os 50% superiores de alunos do mundo todo. No entanto, a Colômbia figura entre os países de melhor desempenho no estudo da UNESCO. Além disso, a parte relativa à matemática dos testes da UNESCO abordou um número menor de tópicos com menos profundidade do que o TIMSS.
Os resultados apresentados até agora pela UNESCO são apenas a prévia de uma análise muito mais detalhada dos dados do teste que será divulgada mais tarde no decorrer deste ano. Esse relatório explorará a relação entre os resultados do teste e os fatores abordados no questionário suplementar, comofreqüência em pré-escola, nível socioeconômico e educacional dos pais, disponibilidade de livros escolares e outro material didático, coeficientes professor/aluno, nível educacional dos professores e suas atitudes e filosofias. Laurence Wolff, consultor em educação do BID que trabalhou no estudo da UNESCO, disse que informações muito mais preciosas acabarão emergindo de uma análise detalhada dos dados sobre cada país. Segundo ele, "esse tipo de análise pode nos levar a conclusões sensatas sobre quais as políticas e práticas que contribuem e as que não contribuem para melhores resultados em um ambiente específico".
Em resumo, a análise futura deverá ajudar a responder a muitas das questões levantadas pelos resultados dos testes da UNESCO, inclusive por que Cuba teve um desempenho muito acima do de outros países. "Nós realmente não temos ainda informações suficientes para explicar esse fato", disse Wolff. Mas os participantes de um seminário recente sobre o estudo na sede do BID em Washington, D.C., especulavam no sentido de que os baixos coeficientes aluno/professor, o nível educacional elevado dos professores e uma taxa alta de educação pré-escolar entre as crianças cubanas poderiam ser parte da resposta.
Na medida em que ajudar a responder a essas questões, o estudo da UNESCO poderá vir a ser uma mina de ouro de informações para os países que levam a sério a reforma de seus sistemas educacionais no esforço de elevá-los a níveis internacionalmente competitivos. Ao longo da última década, quase todos os países latino-americanos e caribenhos criaram órgãos de avaliação educacional permanente e muitos estão recebendo assistência financeira do BID para levar adiante esse trabalho. A esperança é de que futuros estudos internacionais de resultados escolares demonstrem até que ponto os esforços atuais produziram frutos desejados.