Pesquisa do BID em parceria com Moovit mostra que ida ao trabalho foi a principal razão apontada por quem tem utilizado ônibus, metrôs e trens durante a quarentena na América Latina
Mesmo com as dificuldades e orientações contra deslocamentos durante a pandemia da COVID-19, latino-americanos de grandes cidades dependem do transporte público, o que traz desafios econômicos e de saúde pública para a região. Esta é uma das conclusões de uma pesquisa promovida pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e em parceria com o Moovit. O estudo considerou respostas de 33 mil usuários do aplicativo em nove grandes cidades da região, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro.
A pesquisa foi realizada na última semana de abril. Além das cidades brasileiras, participaram usuários de Bogotá, Buenos Aires, Cidade do México, Guadalajara, Guayaquil, Montevidéu e Santiago. Entre as principais conclusões estão:
- Mesmo durante a pandemia, o transporte público é indispensável para a maioria dos entrevistados: 54,6% fez uso pelo menos uma vez na semana da pesquisa. São Paulo, com 73,3%, e Rio de Janeiro, com 69,1%, foram as cidades com as maiores porcentagens de uso. A maioria (77,1%) fez pelo menos uma viagem ao trabalho no período da pesquisa.
- Os passageiros identificaram redução da oferta de serviços em todas as noves cidades. Dos que utilizaram transporte público, 75,6% relataram algum tipo de deterioração no serviço, em particular ônibus menos frequentes (54,2%). Algumas empresas cancelaram linhas e parte (6,0%) dos entrevistados afirmou que não encontraram nenhum serviço operando em sua rota habitual.
- Entre quem utilizou transporte público, 75,3% pertencem à população economicamente mais vulnerável, que ganha até 3 salários mínimos.
- Dos que não utilizaram transporte público, 70,6% disseram que não precisaram viajar, provavelmente devido às medidas de confinamento ou por poder trabalhar de casa. Outros 25,9% viajaram por outros meios de transporte, como a pé, carro ou bicicleta, e 3,3% não pôde viajar devido à falta de serviço em sua rota habitual.
- Para os usuários que não utilizaram transporte público, 68,7% pretendem voltar a usá-lo após o fim das medidas de isolamento. Entre os demais, 23,3% estão indecisos e 8% não tem intenção de utilizar novamente.
Na avaliação do representante do BID no Brasil, Morgan Doyle, o estudo deixou claro que no Brasil e nos países da região da América Latina, grande parte da população tem no transporte público seu único meio de deslocamento para o trabalho durante a pandemia. “Em meio às iniciativas promovidas pelos governos para enfrentar a COVID-19, é importante incluir novos parâmetros de qualidade do transporte público visando melhorar a vida dos usuários. Um transporte público com maior conforto e condições sanitárias representará uma melhoria significativa na vida de todos”, ressalta.
“A pesquisa mostra que mesmo durante uma crise, o transporte público é fundamental para quem precisa se locomover por grandes cidades da região. Esta dependência não mudará tão cedo, mas a oferta de passageiros e as novas regras de distanciamento social exigirão que governos e operadores se adaptem rápido e intensifiquem a utilização de tecnologias para melhorar a experiência do passageiro”, afirma Pedro Palhares, gerente geral do Moovit no Brasil.
A análise completa dos dados pelo BID está disponível no Moviliblog, a página do BID sobre transporte público para América Latina e Caribe. A íntegra da pesquisa e os resultados gerais estão disponíveis aqui.
Sobre o BID
O Banco Interamericano de Desenvolvimento tem como missão melhorar vidas. Fundado em 1959, o BID é uma das principais fontes de financiamento de longo prazo para o desenvolvimento econômico, social e institucional da América Latina e do Caribe. O BID também realiza projetos de pesquisa de vanguarda e oferece assessoria em políticas, assistência técnica e capacitação aos clientes públicos e privados em toda a região.