Roger Hamilton
ACRE, BRASIL — Adelaide de Fátima G. de Oliveira tem a firmeza e a loquacidade próprias de sua profissão de empresária urbana. Mas ela também estava claramente à vontade na floresta, guiando o caminho por uma trilha entre a vegetação cada vez mais densa. Seus visitantes, alguns com sapatos de cidade, seguiam-na aos tropeções.
Ela é a proprietária dessa floresta, explicou, de todos os seus 7.700 hectares e ainda de uma serraria. Também é presidente de um grupo de empresários chamado Assimanejo, cujos membros acreditam que podem ganhar dinheiro e, ao mesmo tempo, proteger o meio ambiente por meio do manejo florestal e da produção de artigos de madeira. Eles são protagonistas de uma nova visão adotada de forma pioneira pelo estado brasileiro amazônico do Acre. Chamada de florestania (ver o artigo “Novos amazônicos”), a idéia é utilizar a floresta intacta como base para a economia do estado.
Muitas espécies – não só as mais valiosas – são extraídas de uma floresta adequadamente manejada.
Os 20 membros do Assimanejo e outros empresários privados são fundamentais para que essa visão funcione. Por mais sinceros que sejam os sonhos das autoridades oficiais e de seus aliados na sociedade civil, uma economia baseada na floresta só pode se tornar uma realidade se tiver sucesso no duro mundo do mercado. Caberá a empresários como Adelaide Oliveira provar a afirmação constantemente repetida pelos defensores da florestania de que a floresta natural pode superar a produção de qualquer outro uso agrícola das terras numa proporção de quatro para um.
O Assimanejo recebe apoio do governo estadual, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, do World Wildlife Fund e de outros grupos. Apenas uma semana antes, Adelaide Oliveira havia assinado um contrato que concedia certificação para a madeira extraída de suas terras. Para ganhar a certificação, ela teve de demonstrar que seus métodos de manejo garantirão a sobrevivência da floresta a longo prazo.
Sua propriedade é a primeira floresta privada no Acre a produzir madeira certificada. Ela traz pessoas às suas terras para programas de treinamento e para que elas vejam por si próprias como operações de extração de madeira podem ser realizadas com um mínimo de perturbação à floresta. “As pessoas precisam ver para crer”, disse ela.
Em particular, Adelaide Oliveira orgulha-se de que as 16 espécies de árvores que estão sendo extraídas de suas terras incluem o mogno, um ícone no mundo das madeiras nobres neotropicais. Por todas as Américas, o mogno tem sido alvo de lenhadores, alguns operando dentro da lei, mas um número muito maior deles pondo em ação as práticas predatórias que contribuíram para quase 500 anos de destruição florestal nesse continente.
O mogno-rei. O destino de Adelaide Oliveira naquela tarde era um mogno espetacularmente grande, um verdadeiro rei da floresta. Ela contemplou com admiração a grande copa obscurecida. A madeira daquela árvore específica poderia alcançar uns US$ 70.000, calculou. Mas ela jamais a derrubaria, tanto por ser uma árvore especial, como porque seu enorme tronco provavelmente estaria oco e apodrecido por dentro. O diâmetro comercial ideal para um tronco de mogno é de 80-100 centímetros. Sua floresta tem uma média de 1,6 dessas árvores por hectare.
Oliveira e funcionários estaduais do Acre repetem um antigo ritual em honra a uma árvore majestosa.
Essa árvore majestosa continuará viva ainda por muitos anos, até chegar o momento de sua morte natural. Enquanto isso, produzirá sementes que garantirão novas gerações de mognos. Também continuará reinando sobre os 100 hectares que Oliveira separou como uma reserva especial em que estudantes universitários podem realizar projetos de pesquisa.
Adelaide Oliveira acredita que, com uma boa administração, o Acre não repetirá os erros cometidos em estados vizinhos, em que o mogno foi praticamente exterminado. “Precisamos ter muito cuidado”, disse ela.
Ela reconhece sem rodeios a responsabilidade dos proprietários de terras privados por boa parte da destruição que ocorreu na Amazônia. “Os proprietários querem seu dinheiro agora”, disse. No entanto, ela afirma que essa mentalidade míope está começando a mudar, pelo menos no Acre. “As pessoas estão percebendo que não teremos para onde ir se a nossa floresta desaparecer.” Também estão começando a compreender a importância da floresta como fonte de serviços cruciais, como abastecimento de água. “Os proprietários de terras estão vendo que, se continuarem a fazer as coisas do modo antigo, vão deixar um futuro pobre para seus filhos e netos”, disse ela.
Amor implacável. Acima de tudo, porém, ela é uma empresária, e sua floresta é parte de seus negócios. “Se a floresta produzir lucros, ela permanecerá intacta”, disse Oliveira. “Caso contrário, será cortada.”
Cada tora leva uma etiqueta que confirma que ela foi cortada de acordo com princípios sólidos de manejo florestal.
Bem, não exatamente, corrigiu-se em seguida. Pela lei brasileira, os proprietários de terras na Amazônia são obrigados a deixar 80% de suas propriedades em estado de floresta natural. “Mas se não administrarem sua floresta para a produção de madeira”, disse ela, “estarão perdendo dinheiro.”
O grupo de Adelaide Oliveira insiste em que há uma estreita ligação entre floresta e indústria, e chega a exigir que os membros da Assimanejo possuam tanto terras florestais como algum tipo de instalação industrial. Oliveira é proprietária de uma serraria que fornece madeira para um fabricante de móveis em São Paulo. “Sem a floresta, não há indústria”, ponderou, “e sem uma indústria, não há empresário.”
De acordo com Adelaide Oliveira, a população local também deve beneficiar-se do manejo florestal. Ela estima que suas operações madeireiras poderão gerar empregos para cerca de 200 trabalhadores. Muitos deles receberam treinamento num centro estabelecido por ela mesma. Famílias também participam de campanhas de vacinação e alfabetização pagas por sua empresa. Ela vê a comunidade como parceira no manejo florestal, mas percebe também a dimensão humana. Por exemplo, ela acredita que a regra que obriga os proprietários de terras na Amazônia a deixar 80% de sua floresta intacta não deve se aplicar à população local. “Uma família que possua 10 hectares não pode sustentar quatro ou cinco filhos plantando em apenas dois hectares”, disse.