A América Latina e o Caribe enfrentam a perspectiva de custos econômicos e sociais potencialmente debilitantes decorrentes de desastres naturais e precisam fazer mais para reduzir os riscos e preparar as finanças públicas para responder a eventuais catástrofes, de acordo com um novo conjunto de indicadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
A nova edição de Indicators of Disaster Risk and Risk Management detalha as perdas econômicas potenciais que um grupo de 17 países da região poderia sofrer na eventualidade de um desastre natural e avalia a efetividade de seus governos para administrar esses riscos. Os indicadores mostram que os sistemas e políticas da região para lidar com riscos de desastres ainda são insatisfatórios.
Os resultados mais recentes dos indicadores de risco serão apresentados durante a Nona Reunião Consultiva do Global Facility for Disaster Reduction and Recovery, que será realizada na sede do BID em 4–7 de outubro.
O sistema de indicadores, desenvolvido em 2005 com apoio financeiro do Fundo Fiduciário Multidoadores de Prevenção de Desastres do BID e o Fundo Especial do Japão, permite que os países avaliem melhor seus riscos e serve como uma orientação útil para a formulação de políticas e para ações governamentais voltadas a reduzir as perdas humanas, de infraestrutura, financeiras e econômicas causadas por terremotos, inundações e outros eventos naturais. O BID está trabalhando atualmente com 15 países da América Latina e Caribe em projetos relacionados a gestão de riscos de desastres.
As perdas humanas e econômicas decorrentes de desastres naturais aumentaram no ultimo século nessa região como consequência do crescimento populacional, urbanização desordenada, exploração excessiva dos recursos naturais e, provavelmente, os efeitos da mudança climática. Terremotos, inundações e tempestades causaram US$ 34 bilhões em perdas econômicas em 2000–2009, comparado a perdas de US$ 729 milhões na década de 1940.
Por exemplo, os indicadores mostram que, se o Peru fosse atingido hoje por um terremoto similar ao que atingiu o Chile mais no início deste ano, poderia sofrer perdas econômicas de até US$ 15,8 bilhões. Um evento semelhante poderia causar perdas de até US$ 5,2 bilhões no México, US$ 3,8 bilhões na Colômbia e US$ 3,5 bilhões no Equador.
“A região enfrenta níveis significativos de risco que, aparentemente, não foram plenamente dimensionados pelos formuladores de políticas e pela sociedade em geral. A América Latina e o Caribe apresentaram níveis insatisfatórios de gestão de riscos”, disse Hector Malarin, chefe da Divisão de Desenvolvimento Rural, Meio Ambiente e Gestão de Riscos de Desastres do BID. “Para melhorar sua gestão de riscos, os países precisam atualizar suas políticas, melhorar a integração entre as agências nos níveis central e subnacionais de governo e investir em reduzir, conter e transferir esses riscos.”
Os indicadores
O sistema de indicadores é constituído de quatro índices principais. O Índice de Déficit por Desastres (IDD) compara as perdas econômicas potenciais que um país pode sofrer e a capacidade financeira do governo para lidar com esses custos. Honduras, Barbados e Nicarágua são os países com o mais alto déficit potencial, enquanto Trinidad e Tobago, Chile e Argentina apresentam os níveis mais baixos.
O Índice de Desastres Locais (IDL) avalia os riscos sociais e ambientais derivados de desastres recorrentes de pequena escala, analisando o número de mortes, o número de pessoas afetadas e os danos a casas e plantações. Diferentemente do IDD, este índice leva em conta eventos que com frequência envolvem poucas vítimas e ocorrem em áreas afastadas, raramente atraindo a atenção dos meios de comunicação. No entanto, as perdas acumuladas causadas por esses desastres recorrentes podem prejudicar o desenvolvimento tanto no âmbito local como nacional. O IDL pode ajudar a orientar decisões sobre uso da terra, redes de segurança social e gestão de riscos no plano local.
Pelo IDL, Panamá, Costa Rica e El Salvador são os países com a mais alta incidência e que sofrem mais frequentemente os efeitos de desastres de pequena escala. Argentina, Colômbia e Bolívia são os que apresentam alta concentração de pequenos desastres que afetam apenas poucas áreas localizadas.
O Índice de Vulnerabilidade Prevalente (IVP) mede as condições de vulnerabilidade predominantes de um país avaliando a exposição da atividade humana e econômica em áreas sujeitas a desastres, bem como a capacidade de absorver os impactos de desastres. Os três indicadores que formam este índice composto consideram fatores como crescimento demográfico, densidade populacional, níveis de pobreza e desemprego, degradação do solo causada por ação humana, proporção dos gêneros, gastos sociais e seguros de infraestrutura e moradia.
Pelo IVP, Nicarágua, Honduras e Jamaica apresentaram os níveis mais altos de vulnerabilidade, enquanto México, Argentina e Chile tiveram os níveis mais baixos.
O Índice de Gestão de Riscos(IGR) combina várias medidas para avaliar a capacidade de um país identificar e reduzir os riscos, responder a catástrofes e recuperar-se delas e oferecer proteção financeira e transferência de risco. Todos os países analisados pelo índice apresentam níveis insatisfatórios de gestão de riscos de desastres.