LIMA, Peru – A Reunião Anual da Assembléia de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento começou hoje com uma nota de otimismo cauteloso quanto às perspectivas de recuperação econômica na América Latina e no Caribe, temperada porém pela preocupação com a volatilidade políticas e as demandas sociais que as democracias da região estão enfrentando.
As autoridades peruanas e latino-americanas que discursaram na sessão inaugural do encontro disseram que a economia da região poderia crescer até 4% em 2004, depois de cinco anos de desempenho fraco.
Essa recuperação, disseram, deveu-se em grande parte a fatores externos, tais como o crescimento nas economias industrializadas e na China, aumentos nos preços dos bens de exportação latino-americanos e baixas taxas de juros internacionais.
Os oradores advertiram que essas condições favoráveis não durarão para sempre, e conclamaram os governos da região a preparar seus países para o impacto de ajustes econômicos inevitáveis nas nações industrializadas.
Expressaram também preocupação com a turbulência política que está afetando alguns países da América Latina, reflexo do descontentamento popular com o desempenho de seus governos democráticos e os resultados das reformas econômicas.
Em seu discurso, o presidente do BID Enrique V. Iglesias aconselhou os países da região a usar este período favorável para consolidar as reformas que funcionaram bem, corrigir as que ficaram aquém do esperado e seguir adiante com as reformas pendentes a fim de aumentar a eficiência econômica e assegurar uma distribuição mais eqüitativa de seus benefícios.
“A recuperação econômica baseada exclusivamente em fatores externos não costuma durar, como, infelizmente, bem nos lembra a experiência da nossa região e a história do mundo”, disse Iglesias. “Mais cedo ou mais tarde haverá ajustes.”
O presidente do BID também instou os países mutuários do Banco a administrar de forma prudente este período de recuperação, controlando os déficits do setor público, evitando a formação de “bolhas” de crédito em seus sistemas financeiros, aproveitando as atuais taxas de juros baixas para melhorar o perfil de suas dívidas externas e criando um clima de negócios mais propício.
O presidente do Peru Alejandro Toledo ligou a insatisfação pública em alguns países ao fato de que os bons resultados econômicos não se traduziram imediatamente em melhores padrões de vida. “Os benefícios do crescimento econômico não estão alcançando os mais pobres”, disse. “Os indicadores macroeconômicos são bons, mas os bolsos estão vazios.”
Mesmo assim, afirmou Toledo, seu governo está comprometido em manter um curso estável. “A experiência do Peru com populismo em décadas recentes é um exemplo do que não se deve fazer”, concluiu.
Do ponto de vista de Iglesias, as democracias da América Latina necessitam de partidos políticos que possam alcançar um consenso básico para tocar para a frente as reformas necessárias para atingir o crescimento econômico sustentado que se traduzirá em dividendos sociais tangíveis.
Com relação aos temas sociais, a região precisa modernizar sua legislação trabalhista para incentivar a criação de empregos; aumentar a eficiência do gasto em serviços sociais; promover a inclusão social de grupos marginalizados, como os indígenas e os afro-latinos; e fomentar a participação do cidadão no processo decisório.
Um dos objetivos principais deve ser evitar que as políticas públicas sejam “capturadas” por grupos de interesse que queiram apropriar-se dos benefícios das reformas e socializar seus custos, acrescentou ele.
O ministro peruano da Economia e Finanças Pedro Paulo Kuczynski, que foi eleito presidente da Assembléia de Governadores do BID, disse que a recuperação econômica sustentada e previsível é pré-condição indispensável para reduzir a pobreza.
Kuczynski – que havia anteriormente coordenado um estudo sobre o apoio do BID, da Corporação Interamericana de Investimentos e do Fundo Multilateral de Investimentos ao setor privado – pediu mais atenção a duas áreas prioritárias para o crescimento econômico e o emprego na região: pequenas e médias empresas e infra-estrutura física.
Aplaudiu também o interesse de países asiáticos como a China e a Coréia do Sul em juntar-se ao BID, dizendo que a Ásia está cada vez mais se tornando um parceiro importante para as economias da região.
Falaram também durante a sessão de abertura César Gaviria, secretário geral da Organização dos Estados Americanos, e o secretário executivo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, José Luis Machinea.
A 45a Reunião Anual da Assembléia de Governadores do BID está sendo realizada conjuntamente com a 19a Reunião Anual de governadores da CII, afiliada do BID que apóia o desenvolvimento de pequenas e médias empresas na região através de investimentos de capital e empréstimos.
As assembléias de governadores, órgão decisório máximo dessas instituições, incluem ministros da Fazenda, presidentes de bancos centrais e outros funcionários do alto escalão dos 46 países membros do BID. Entre os membros estão 26 países mutuários da América Latina e do Caribe.
A reunião de Lima atraiu um público recorde de mais de 7.000 pessoas. O encontro de 2005 será realizado na ilha japonesa de Okinawa.