Levou dois séculos para construir as rodovias, as linhas das estradas de ferro e os portos que formam a espinha dorsal da infra-estrutura de comércio da América Latina. Em comparação, a infra-estrutura de informação na região parece ter se formado do dia para a noite. Há dez anos, micros, modems e principalmente a Internet eram praticamente desconhecidos na América Latina.
Hoje, há pelo menos 10 milhões de micros na América Latina e no Caribe, segundo dados da empresa de pesquisa de mercado IDC Latin America, com sede nos Estados Unidos. Cerca de 3,3 milhões de novas unidades terão sido vendidas em 1997. A região gastou US$5,84 bilhões em micros e software em 1995, US$7,53 bilhões em 1996 e está preparada para gastar US$9,37 bilhões em 1997. No ano 2001, a IDC estima que esses números dobrararão, chegando a US$20 bilhões.
Enquanto isso, as empresas de telecomunicações da região estão gastando bilhões de dólares adicionais para instalar linhas de telefone, cabos de fibra óptica e centros de switch de alta capacidade. Embora estes se dediquem ainda quase que inteiramente a comunicações orais, o tráfego puramente de dados representa uma fonte de demanda cada vez maior. Pelo menos dois milhões de latino-americanos têm endereços eletrúnicos e uma grande proporção deles tem pleno acesso à World Wide Web da Internet. As empresas de mídia da região estão numa corrida para desenvolver material para a Web: em janeiro de 1996, cerca de 50.000 firmas e organizações latino-americanas e caribenhas administravam servidores, ou computadores que guardam imagens e texto e que permitem o acesso por usuários em todo o mundo. Um ano depois, esse número tinha triplicado, segundo um levantamento mensal desses sites realizado por especialistas da Rede Nacional de Pesquisa da Costa Rica.
O mais notável é que esse surto de infra-estrutura de informação ocorreu com pouca assistência do governo. Ao contrário de projetos tradicionais de infra-estrutura, que sempre dependeram de fundos públicos, a nascente infra-estrutura da informação na América Latina e no Caribe está sendo construída quase que exclusivamente pelo setor privado. De fato, essa infra-estrutura está crescendo mais depressa nos países em que que o Estado privatizou a indústria de telecomunicações, abaixou as tarifas sobre os produtos de tecnologia e permitiu a livre concorrência nos serviços de rede de dados.
Isso porque são as linhas de telefone e os serviços de rede - e não os computadores - que basicamente determinam o custo e a taxa de crescimento da infra-estrutura de informação de um país. Embora os micros ainda custem perto de 50% mais na América Latina do que nos Estados Unidos, seu preço vem caindo paulatinamente, de cerca de US$5.000 em meados da década de 80 até perto de US$1.000 hoje. Muitos especialistas acreditam que até o fim da década as empresas de computadores estarão oferecendo "computadores em rede", pelo preço de uma televisão de tamanho médio, que servirão como entrada para a Internet e terão a maioria das características dos micros de hoje.
Computadores de baixo preço, porém, não serão de grande valia se o custo das conexões de longa distância necessárias para obter acesso à Internet continuar tão alto quanto é hoje. O custo para um usuário individual por 20 horas de acesso à Internet varia de US$20 a US$300 nas maiores cidades da América Latina, segundo dados da Latin American Newsletter, com sede em Londres. Nos Estados Unidos, US$20 é o custo de um mês de acesso ilimitado à Internet.
Os altos preços de acesso na América Latina se devem em grande parte às limitações da infra-estrutura telefúnica existente, que em muitos países está sobrecarregada com equipamento antiquado e inadequado para atender à demanda técnica de alto volume das redes digitais. Como mostraram países como o Chile, México, Peru, Argentina e outros, a privatização é o meio mais eficiente de introduzir nova tecnologia e serviços na infra-estrutura de telecomunicações. Na maioria dos países que privatizaram as telecomunicações, o período de espera por uma nova linha de telefone passou de vários anos para poucos meses; o serviço melhorou consideravelmente e os custos para o consumidor começaram a cair.
Mas ainda assim, nos próximos anos muitas das empresas telefúnicas recém-privatizadas serão protegidas por monopólios parciais ou totais, necessários para atrair investimentos sérios. Isso poderá retardar a expansão da Internet e dos serviços de rede de dados, a não ser que os governos se convençam da necessidade de permitir a entrada de novos competidores nesses nichos. O Chile é prova eloqüente dos benefícios da liberalização total do mercado de comunicações. Os consumidores e as empresas chilenas desfrutam de uma das tarifas telefúnicas mais baixas do mundo. Em função disso, o Chile tem duas vezes mais servidores para a Internet por 1.000 habitantes do que qualquer outro grande país da América Latina.
O crescimento da infra-estrutura da informação na região, porém, enfrenta restrições que transcendem as fronteiras nacionais. Como a América Latina não tem o suporte básico das telecomunicações de alta capacidade para transmitir dados dentro da região, a maior parte do tráfico da Internet que aí se origina precisa primeiro ir para os Estados Unidos via satélite ou cabo submarino antes de atingir os outros países latino-americanos. Esse desvio aumenta o tempo de transmissão e os custos para os provedores de acesso à Internet na região.
Há três fatores que deverão aliviar o problema na próxima década. Primeiro, a continuação da tendência de privatização das empresas telefúnicas nacionais incentivará investimentos em linhas de fibra óptica de alta capacidade e transmissões de dados sem fio que cruzem as fronteiras regionais. As privatizações também impulsionarão os planos da AT&T Corp. e diversos consórcios regionais para completar um circuito de fibra óptica que abarcará a costa sul-americana e eliminará a necessidade de desviar o tráfego pelos Estados Unidos. Finalmente, empresas de satélite nacionais e internacionais estão planejando dobrar o número de satélites de alta capacidade dedicados à América Latina nos próximos anos, de 11 para 20.