Um candidato a um cargo público num país da América do Sul recentemente ocupou as manchetes da imprensa local quando disse que assassinos deveriam ser mortos a tiros.
Essa declaração acrescentou lenha à fogueira do debate na América Latina sobre o papel da polícia num clima generalizado de crime e insegurança. "Meter bala", era a receita do candidato, que disse que um programa recente de reforma da força policial tinha ido longe demais: as novas regras visando proteger os direitos dos suspeitos e reduzir o número de mortos nos confrontos com a polícia tinham, a seu ver, "atado as mãos" da polícia. Como resultado, dizia ele, os criminosos estavam agindo com mais impunidade do que nunca.
Embora haja pouquíssima evidência de que maior uso de força policial reduza a criminalidade, esse argumento está ganhando popularidade em países onde as pessoas estão frustradas, e com razão, com o aumento da violência criminosa.
Infelizmente, isso ignora a realidade desagradável de que a polícia em muitos casos é de fato parte do problema da criminalidade. Na cidade onde vive o candidato mencionado acima, a polícia tem sido acusada de corrupção e brutalidade desenfreadas. O programa de reforma que provocou sua crítica foi lançado em resposta à indignação pública face a uma força policial que aparentemente ao mesmo tempo que combatia os criminosos entrava em conluio com eles.
Entre acusações e recriminações, geralmente tem-se dado pouca atenção ao verdadeiro desafio: a reforma da família de instituições encarregadas de fazer cumprir a lei, proteger os direitos humanos e administrar justiça. Hoje, diversos países latino-americanos estão usando empréstimos do BID para financiar reformas profundas de seus sistemas penal e judicial. Mas esses esforços não gerarão apoio público duradouro enquanto as forças policiais - que em geral são o único contato da população com a lei - não sofrerem elas mesmas uma transformação.