Pular para o conteúdo principal

Protagonista na proteção da floresta tropical

Roger Hamilton

As pernas de Genaro Santos da Cruz não podem mais levá-lo pelas trilhas da borracha na floresta tropical do estado do Acre, no oeste da Amazônia brasileira. Mas seus olhos brilham com uma energia jovial quando fala de sua participação numa grande experiência para salvar o lugar que ele chama de lar.

Cruz começou a percorrer as trilhas da borracha aos oito anos de idade. Seu primeiro trabalho foi seguir seu pai, carregando o balde com o látex coletado das pequenas latas usadas para recolher a seiva leitosa que escorria dos cortes paralelos feitos nas laterais das árvores. Três anos depois, ele já percorria as trilhas sozinho.

Isso foi muitos anos antes de se começar a falar em transformar essa floresta numa reserva. Também foi muito antes de Chico Mendes, antes mesmo da ditatura militar. Mas já era uma época de mudança, em que a questão do controle da terra era com freqüência resolvida com ameaças e violência. Cruz procurava não pensar nisso enquanto sustentava sua família, percorria suas trilhas da borracha, cultivava pequenas plantações e criava algumas cabeças de gado.

Foi quando chegou a seus ouvidos a notícia de que o governo ia transformar a “sua” floresta em parte de uma reserva florestal. “Eu não tinha a menor idéia do que estavam falando”, lembrou ele. “Uma reserva florestal era algo que não tinha sentido para nós.”

Os rumores começaram a circular. “As pessoas diziam: ‘O governo quer que a gente vá embora e deixe a terra apenas para os animais e as árvores’”, recordou Cruz. “Todos estavam com medo. Diziam: ‘Vivemos aqui há tanto tempo. Nascemos aqui, nossos filhos nasceram aqui, e agora acontece isso’.”

Mas os receios acabaram se mostrando infundados. As pessoas que moravam na floresta puderam permanecer lá e receberam confirmação oficial de seus direitos de continuar usando a terra, embora sem título de propriedade. A reserva até construiu casas novas e mais resistentes para eles.

“Nossos bisnetos poderão continuar vivendo aqui”, disse Cruz. “Não precisamos ter medo. Este é um lugar onde podemos viver em paz, caçando um pouco, colhendo castanhas-do-pará. Para mim está bom.”

A reserva é só uma das mudanças ocorridas nessa área florestal. Outra está a caminho. Em poucos anos, a estrada de terra que vai até a capital, Rio Branco, será pavimentada. Cruz está otimista. Como suas terras estão localizadas dentro da reserva, os novos posseiros e especuladores que uma nova estrada com freqüência atrai não poderão ameaçar seus direitos, nem os de seus vizinhos. Além disso, ele diz que a estrada baixará o custo do transporte de seus produtos e facilitará as visitas a seus quatro filhos, que foram estudar na cidade.

Quanto a si, Cruz pretende continuar vivendo na floresta, junto com um filho que já percorre as trilhas da borracha da família.

Jump back to top