"A mais potente medida do desenvolvimento de uma economia é a saúde de sua população", disse J. Fraser Mustard, presidente e fundador do Instituto Canadense de Pesquisa Avançada, num recente seminário do BID sobre as conseqüências sócio-econômicas da nutrição e estimulação na infância.
Mustard apresentou argumentos fortes para que as sociedades da América Latina e do Caribe invistam pesadamente nas mães e crianças e na educação e alimentação adequada de crianças em idade pré-escolar. Seus argumentos se baseiam em pesquisas sobre taxas de doença e mortalidade em países com sistemas nacionais de seguro de saúde, descobertas recentes sobre o desenvolvimento de funções cerebrais e estudos sobre crianças carentes.
Um estudo de 1970 na Inglaterra, por exemplo, concluiu que a defasagem na qualidade da saúde entre as classes sociais tinha na verdade aumentado desde a criação do Serviço Nacional de Saúde em 1948. As pessoas nas camadas mais altas da sociedade ainda apresentavam as taxas mais baixas de mortalidade, as quais aumentavam gradualmente à medida que se descia na escala social. Esse mesmo padrão tende a se encontrar em países que, como os Estados Unidos, não têm serviços nacionais de saúde como a Inglaterra, o que sugere que o acesso a serviços médicos não determina os níveis de saúde tanto quanto fatores subjacentes como desemprego, renda e educação.
Outro estudo citado por Mustard mostrou um padrão similar entre os funcionários públicos da Inglaterra, um grupo que não está sujeito a riscos industriais, desemprego, pobreza ou afluência excessiva. Nesse caso, as pessoas no terço mais baixo da burocracia apresentavam risco mais alto de morte por doença coronária, derrame, câncer em conseqüência do tabagismo, acidentes e suicídios do que as que estavam mais no topo da hierarquia.
Uma explicação possível é que os funcionários públicos nos graus mais baixos não tinham sido tão bem nutridos durante a infância quanto os que estavam mais alto na hierarquia. Os valores médios pareciam ter uma correlação com a posição dos indivíduos na hierarquia, as taxas de doença-absenteísmo e o risco de morrer de doenças que incluíam suicídio e acidentes.
Mustard citou evidências de estudos psicológicos e neurocientíficos que mostram como os cuidados e os estímulos durante os primeiros meses de vida e na infância influenciam o desenvolvimento das funções cerebrais.
Estudos sobre um programa para crianças da classe trabalhadora em idade pré-escolar em Michigan e um programa para melhorar a nutrição e os cuidados entre crianças em alto risco na Jamaica revelaram diferenças marcantes entre as crianças que receberam mais cuidados e as que estavam no grupo de controle. O acompanhamento desses indivíduos até a idade de 27 anos mostrou que os pré-escolares que receberam melhores cuidados tinham níveis de emprego mais altos, metade das taxas de condenação por crime e níveis bem mais baixos de uso de drogas do que os que não tinham sido bem tratados.