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Presidente do BID garante apoio do Banco para melhor administração da água

FORTALEZA, Brasil – O presidente do BID, Enrique V. Iglesias, pediu hoje um maior envolvimento do setor privado na solução do que qualificou de um “problema urgente” de financiamento e administração de recursos hídricos nos países da América Latina e do Caribe.

Iglesias observou que os recursos públicos são insuficientes para financiar os serviços de água potável e saneamento necessários para atender aos milhões de pessoas que ainda carecem desses serviços na região. “Se não aprendermos a trabalhar com o setor privado, não poderemos resolver esse problema”, disse Iglesias.

Ao declarar que a questão dos recursos hídricos é essencial para o desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza, Iglesias garantiu o apoio do BID para o treinamento de governos locais e o estabelecimento de parcerias entre os setores público e privado.

Iglesias discursou na sessão de abertura do seminário “Questões Estratégicas sobre o Uso e a Administração da Água na América Latina e no Caribe: uma Agenda de Ação”, realizado no primeiro dia da Reunião Anual do Banco, em Fortaleza, Brasil. Também participaram do evento o governador do Ceará, Tasso Jereissati, o ex-diretor-administrativo do FMI, Michel Camdessus, o subsecretário do Meio Ambiente do Brasil, Raymundo Garrido, além de especialistas dos setores público e privado do Brasil e de outros países membros do BID.

Os resultados do seminário serão empregados na formulação de um plano de ação destinado a solucionar os problemas mais urgentes da região associados à água. O plano também apoiará os objetivos do Terceiro Fórum Mundial da Água, programado para março de 2003, no Japão.

Em seu discurso, o governador do Ceará descreveu uma iniciativa em andamento destinada a reduzir os efeitos de secas periódicas em seu estado, que é 90% semi-árido.

O plano do Ceará está sendo organizado com base em bacias hidrográficas e, nos próximos anos, uma série de reservatórios e canais ligarão diferentes unidades administrativas. Uma autoridade central fiscalizará os recursos hídricos do estado. “Em dois ou três anos, os efeitos da seca serão drasticamente reduzidos”, declarou.

“Se não podemos controlar a água que vem de cima, pelo menos podemos administrar a água depois que ela chega ao solo”, acrescentou.

Em suas observações, Camdessus referiu-se à importância do seminário na preparação para o Fórum do Japão, onde presidirá um painel sobre financiamento, água e infra-estrutura.

Camdessus enfatizou, ainda, a importância de uma conferência que acontecerá no final deste mês em Monterrey, México, sobre financiamento e desenvolvimento. Essa reunião, acrescentou, definirá os parâmetros financeiros para os próximos anos, no que concerne à solução de problemas relacionados à água, bem como outras questões sobre desenvolvimento.

Da mesma forma que Iglesias, enfatizou a importância do setor privado na área de administração de recursos hídricos, referindo-se a uma parceria entre os setores público e privado como “absolutamente essencial”. “Se o setor privado não se envolver”, disse, “não alcançaremos nossas metas”.

O problema da água continua a afligir a região

Apesar dos progressos significativos das últimas décadas, o desenvolvimento socioeconômico dos países da América Latina e do Caribe continua a ser afetado por sérios problemas de administração da água, que poderão ser exacerbados no futuro devido ao crescimento demográfico e à concentração da população em centros urbanos.

A série de problemas inclui a falta de sistemas de água potável nos bairros de baixa renda, a gestão de bacias hidrográficas, a proteção dos mananciais de água e a prevenção de desastres naturais. Vários especialistas prevêem que a água será, no plano mundial, um dos recursos mais críticos deste século.

A situação dos recursos hídricos é uma preocupação dominante para o BID, que destinou uma parcela prioritária de seus empréstimos aos setores sociais. Desde sua criação, há mais de 40 anos, o BID investiu mais de US$ 35 bilhões no setor de água e saneamento. O primeiro financiamento da história do BID destinou-se a um projeto de água em Arequipa, Peru. Atualmente, milhões de pessoas em zonas urbanas e rurais, em toda a região, se beneficiam de água potável e saneamento financiados pelo Banco.

Mas apesar desses investimentos e dos benefícios indiscutíveis que deles resultaram, cerca de 120 milhões de pessoas na região ainda carecem de sistemas de saneamento e 78 milhões ainda não têm água potável.

No Brasil estão sendo executados projetos particularmente ambiciosos de administração hídrica financiados pelo BID. Em São Paulo, o projeto para reviver o Rio Tietê, biologicamente morto, por meio de obras maciças de saneamento, já está em sua segunda etapa. No Rio de Janeiro, um programa para limpar a Baía da Guanabara aumentará a cobertura dos serviços de esgotos dos atuais 35%, para 50% da população.

Um projeto para restaurar a qualidade da bacia do Lago Guaíba, no Rio Grande do Sul, está em estágio bastante avançado em seu objetivo de proporcionar serviços de esgoto a 400 mil habitantes. Além de obras de infra-estrutura, cerca de 3.600 funcionários técnicos e administrativos estão sendo capacitados em áreas como qualidade da água e manejo de águas servidas.

No estado da Bahia, um projeto de saneamento básico aumentará a cobertura dos serviços de esgoto na capital, Salvador, de 26% para 82%. O abastecimento de água potável passará de 57% para 80% em 11 municípios e proporcionará serviços de esgoto a 8 municípios.

Dentre os projetos futuros do BID incluem-se obras de saneamento e sistemas de água potável em Fortaleza e em outras comunidades do estado do Ceará. Em Goiás, a administração e a execução de melhorias nos serviços de água e saneamento ficarão a cargo do setor privado.

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