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O BID retorna às suas raízes

Em muitas culturas, o quadragésimo aniversário marca uma etapa importante, uma transição entre a juventude e a maturidade, o momento de fazer balanços e estabelecer metas para o futuro.

O mesmo acontece com as instituições. O Banco Interamericano de Desenvolvimento celebrou seu quadragésimo aniversário em dezembro com a realização de uma cerimônia em Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, Brasil, no local onde foi tomada a decisão formal de lançar o que seria a primeira instituição regional de empréstimos do mundo.

Acontece que Petrópolis já tem lugar garantido na história. Essa pitoresca cidade serrana, distante 65 km da cidade do Rio de Janeiro, foi escolhida no século 19 pelo imperador brasileiro Dom Pedro II como a sede de seu palácio de verão. Monarca iluminado que governou a nação durante quase 50 anos, o imperador encomendou um plano detalhado para a cidade e atraiu imigrantes para a área.

Principal ponto de referência de Petrópolis, o imponente Hotel Quitandinha também se vangloria de um passado brilhante. De construção maciça em estilo normando, com 440 apartamentos e 13 grandes salões, foi inaugurado como o maior cassino da América Latina. Mas seu esplendor desapareceu depois que as autoridades brasileiras declararam o jogo ilegal. Após várias décadas de declínio, a sorte do hotel começou a melhorar na década de 90, quando suas instalações foram restauradas e passaram a servir como centros de convenções.

Uma idéia antiga fixa raízes.
A idéia de um banco regional, bem como de um mercado comum e de uma única moeda latino-americana, remonta ao final do século 19. Mas foi somente em 1954, no salão de teatro circular do Quitandinha, que uma reunião de Ministros da Fazenda, convocada pela Organização dos Estados Americanos, fez a primeira proposta concreta de criação de uma instituição financeira para atender às nações da América Latina e do Caribe. A proposta se firmou, e em 1958 recebeu o apoio decisivo do presidente do Brasil, Juscelino Kubitscheck, e do presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower. O BID foi formalmente criado no ano seguinte.

Em dezembro último, os chefes de Estado do Brasil, da Costa Rica, do Peru, do Uruguai e de Trinidad e Tobago, juntamente com ministros e altos funcionários dos 46 países membros do Banco, retornaram ao Hotel Quitandinha para rememorar as realizações do Banco até o presente e examinar os desafios que ele tem pela frente.

"O BID deve continuar a exercer um papel importante no fortalecimento da cooperação entre nossos povos", declarou o presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, em seu discurso na reunião de aniversário. "O Banco dispõe de todas as ferramentas certas para ajudar a América Latina e o Caribe a ingressar no processo de globalização da maneira mais sólida, menos distorcida e socialmente mais abrangente para eliminar gradualmente toda desigualdade."

Lições da história.
Diversos outros oradores destacaram igualmente a urgência de se resolver a pobreza e a desigualdade persistentes da América Latina. Para o Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Lawrence H. Summers, a região simplesmente não está fazendo os investimentos necessários em capital humano. "Na iminência de um novo século, um quarto das pessoas da América Latina não tem acesso a água potável, um terço vive na pobreza e um quinto não tem acesso a saneamento", afirmou Summers. "Se a mesma engenhosidade humana que tornou possível que uma pessoa com um telefone celular na mão, situada em praticamente qualquer ponto deste continente, fale para qualquer lugar do mundo for aplicada a esses problemas, eles também serão resolvidos."

O Presidente do Banco Enrique V. Iglesias, que está à testa do BID há 11 anos, disse que a taxa de crescimento de 3% da região na década de 90 foi baixa demais para reduzir a pobreza. Segundo ele, o PIB terá que crescer mais de 6% ao ano ao longo da década que está entrando. E acrescentou: "Esta é uma tarefa realizável".

Iglesias instou os países da região a que resistam à tentação de procurar alívio de curto prazo das pressões da globalização erguendo barreiras ao comércio ou fazendo concessões populistas. "Devemos evitar incorrer nas mudanças pendulares que marcaram tão profundamente as políticas de nossa região", afirmou. "Devemos construir a partir de nossas realizações, aperfeiçoar nossas políticas quando necessário, mas manter o rumo. Essa é a lição da história."

Passos estratégicos.
O maior desafio do BID na próxima década será ajudar a região a reduzir sua vulnerabilidade a choques externos, disse Iglesias à Comissão da Assembléia de Governadores do BID, na reunião realizada em 2 e 3 de dezembro no Rio de Janeiro, pouco antes da cerimônia do Quitandinha. Um dos principais fatores que contribuirão para diminuir essa vulnerabilidade é o aumento da poupança interna, área em que a América Latina tem ficado atrás em relação a outras regiões. De fato, como disse o economista Albert Fishlow do Conselho de Relações Exteriores aos governadores e convidados reunidos, a taxa de poupança da América Latina mantém-se praticamente no mesmo nível em que se encontrava quando o BID foi fundado em 1959.

Na reunião de dois dias no Rio de Janeiro, a administração do Banco e representantes dos países membros discutiram a proposta de uma estratégia desenhada para ajudar o BID a atender melhor às necessidades de seus mutuários. Além da questão da vulnerabilidade, a estratégia propõe maior atenção à melhoria da qualidade da gestão dos negócios públicos, à promoção de mercados eficientes, ao apoio à integração regional e ao investimento em capital humano e social. Na área de governabilidade, diversos países membros solicitaram ao Banco que reforçasse o apoio à tendência rumo à descentralização que está ocorrendo na região.

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