"Queremos cultivar drogas ou continuar a ser indígenas?"
Esta é a pergunta que o antropólogo Carlos César Perafán-Simmonds espera que os povos indígenas da Colômbia se façam ao enfrentar a questão do que fazer com as plantações ilícitas cultivadas em seus territórios. Isso porque, ao mesmo tempo em que a coca, a maconha e a papoula de que se extrai o ópio são culturas altamente rentáveis, elas corroem os valores tradicionais e os estilos de vida das comunidades indígenas.
Falando em um recente seminário na sede do BID em Washington, D.C., Perafán-Simmonds descreveu como a cultura tradicional dos indígenas -- a sua visão do mundo e a luta para manter a sua identidade -- sugere uma abordagem para a eliminação dessas culturas sem se recorrer a medidas draconianas ou a esquemas caros, como a substituição de cultivos ou pagamentos diretos. Sua palestra baseou-se em um estudo realizado como parte de um projeto financiado pelo BID para apoiar as comunidades que erradicaram plantações ilícitas na Colômbia.
Estima-se que 17% das lavouras ílicitas no país são cultivadas em reservas indígenas legalmente constituídas. Uma porção maior porém menos definida encontra-se em áreas indígenas que não foram legalizadas.
Ao contrário da Bolívia e do Peru, o cultivo de folhas de coca (o ingrediente bruto da cocaína) não faz parte da herança cultural da maioria dos povos indígenas colombianos. De fato, em muitas áreas os cultivos ilícitos não são sequer feitos pelas comunidades indígenas, mas por colonos que invadem os seus territórios, perturbando a economia tradicional e o sistema de autoridade política.
No geral, estima-se que 41% dos 638.600 indígenas do país, ou aproximadamente dois terços das comunidades indígenas, são de uma forma ou de outra afetados pelas culturas ilícitas.
Perafán-Simmonds acha que, na elaboração dos programas de erradicação, os planejadores deverão entender que os povos indígenas vêem em muitos casos ligações entre eventos em função de uma estrutura lógica metonímica, pela qual eventos presentes se associam a eventos passados sem a necessidade de relações causais. A mudança dos eventos anteriores -- que ele chama de "nós" -- torna muito mais fácil convencer as pessoas a erradicar as plantações ilícitas. O seu trabalho de campo revelou que muitos desses nós têm implicações para o desenho de projetos futuros. Um deles foi a eliminação em 1990 do financiamento a juros baixos para o cultivo de produtos agrícolas para o mercado. Quando o financiamento terminou, muitas comunidades tinham acumulado dívidas que não podiam pagar, o que abriu espaço para os traficantes de droga oferecerem o seu próprio financiamento para cultivos ilícitos. O projeto proposto apoiaria programas prioritários para fortalecer as economias comunitárias tradicionais.
Outras propostas de projetos protegeriam a integridade territorial das terras indígenas, ou por meio de demarcação e fiscalização ou pelo assentamento dos colonos em outras áreas. Outro projeto subsidiaria o transporte fluvial, porque os lucros das safras legítimas são insuficientes para a aquisição de motores e combustível.
Ainda assim, os lucros dos cultivos ilícitos são muito superiores a todos os outros que possam substituí-los. Isto constitui problema? Não necessariamente, assegura Perafán-Simmonds. Como as normas tradicionais impõem limites à acumulação, boa parte dos lucros das vendas das safras ilícitas vai para o consumo excessivo de comidas, bebidas e festas, em vez de ser usada para a capitalização da economia. Portanto, as novas culturas não precisam gerar esses lucros, desde que os novos ganhos sejam usados para a poupança e o investimento, especificamente com o objetivo de desenvolver as economias e identidades das comunidades indígenas em vez de contribuir para a sua erosão.