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Latino-americanos estão satisfeitos com a educação, apesar do desafio da qualidade

A maioria dos latino-americanos se diz satisfeita com a educação pública, embora os estudantes da região posicionem-se bem atrás dos estudantes asiáticos e de nações desenvolvidas em testes internacionais de desempenho, de acordo com uma pesquisa Gallup, encomendada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O estudo se concentra em identificar, em uma perspectiva de longo prazo, qual a contribuição do desenvolvimento da educação na qualidade de vida na América Latina e no Caribe. Apesar das tendências de longo prazo indicarem que, em todos os países, a população está cada vez mais incluída no sistema escolar e com uma maior escolaridade, a situação em termos de qualidade não é tão positiva.

Os dados sugerem que mais da metade da população entre 15 e 19 anos no Brasil, Argentina, Chile, México, Peru e Uruguai não tem instrução suficiente e nem destreza – medida por provas que medem o aprendizado efetivo e não número de anos na escola, para obter um emprego bem pago na altamente competitiva economia global (ver gráfico abaixo). Este cálculo faz parte de um estudo do BID que explora tendências de longo prazo na qualidade de vida dos países da América Latina e Caribe, incluindo temas como educação, saúde e o mercado de trabalho. 

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Fonte: Cálculos do BID com base na porcentagem da população que não completou o 9o ano do ensino fundamental e na porcentagem de alunos no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) que pontuaram abaixo do nível mais baixo (nível 1). Foram utilizados os dados mais recentes de PISA porque permitem uma base de comparação entre países. Os dados de PISA de Peru correspondem ao ano2000; 2002 para Argentina e México; e 2003 para Chile, Brasil e Uruguai. PISA é um teste patrocinado pela OCDE. 

 

Entretanto, em países da região, a população apresenta níveis de satisfação similares aos de nações desenvolvidas. Venezuela, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Honduras e República Dominicana, por exemplo, declararam níveis de satisfação com a educação mais altos do que o Japão, embora os alunos desses países tenham apresentado pontuações em provas de desempenho escolar 35% mais baixas, em média, do que os alunos japoneses, de acordo com a pesquisa.

Costa Rica, Venezuela e Nicarágua são os países com o mais alto nível de satisfação na região, com mais de 80% das pessoas entrevistadas dizendo que estão satisfeitas com o sistema educacional. Haiti, Peru e Argentina são os menos satisfeitos, com taxas de aprovação abaixo de 55% (ver gráfico abaixo).


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                    Fonte: Cálculos do BID com base no Gallup (2006 e 2007).

 

Pessoas com níveis mais baixos de instrução tendem a ter uma opinião melhor sobre a qualidade dos serviços educacionais do que pessoas com mais anos de escolaridade, de acordo com a pesquisa, parte de estudo do BID sobre a qualidade de vida na América Latina. A pesquisa mostrou também que os pais, quando avaliam a qualidade, parecem levar em conta outros atributos e não o desempenho escolar medido pelos testes de avaliação. Por exemplo, os pais de um aluno podem levar em consideração se a escola é mantida limpa ou se as exigências de disciplina são justas para todos os alunos.

“A América Latina entrou em uma nova fase de desenvolvimento na qual os governos precisam melhorar significativamente a qualidade da educação e de outros serviços públicos para assegurar que os países sejam capazes de sobreviver em uma economia global competitiva”, disse Luis Alberto Moreno, presidente do BID. “A compreensão das percepções das pessoas sobre a qualidade dos serviços pode enriquecer o debate e levar a políticas mais eficazes.”

O estudo utilizou dados da Pesquisa Mundial do Gallup e informações obtidas em perguntas encomendadas  pelo BID para complementar a pesquisa. O Gallup entrevistou mais de 40.000 pessoas em 24 países da América Latina e do Caribe entre novembro de 2005 e dezembro de 2007. A margem de erro da pesquisa varia para cada país, indo de 3,1% a 5,1%.

A pesquisa é parte da série Desenvolvimento nas Américas, publicação do BID que tem por objetivo trazer novas perspectivas para questões de desenvolvimento na América Latina e no Caribe. O Banco fará o lançamento do estudo em 18 de novembro, em Washington D.C., em evento que marcará o início de uma série de apresentações e discussões públicas em vários países da região sobre temas emergentes do desenvolvimento.

Implicações para as políticas públicas

 

“A falta de demanda por uma educação melhor faz com que os governos fiquem menos motivados para produzir melhorias”, disse Juan Carlos Navarro, um dos pesquisadores do BID que conduziram o estudo.

À medida que os países da região melhoram o nível de desempenho educacional de sua população, porém, as críticas tendem a aumentar, porque as pessoas passam a prestar mais atenção aos serviços que estão sendo oferecidos, como mostram os casos do Chile e do Brasil. Esses dois países apresentaram níveis de satisfação abaixo do esperado, embora seus estudantes estejam entre os de melhor desempenho na região, de acordo com o estudo (ver quadro abaixo). A insatisfação da população com o sistema educacional pode gerar apoio político para reformas .

Chile e Brasil, de maneiras diferentes, investiram para tornar os resultados dos testes de avaliação nacionais disponíveis para o público. Os testes aumentaram a consciência da população e ajudaram os governos a pressionar os legisladores a apoiarem  reformas.

 

Satisfação com a educação e pontuação em testes

 

 

 

País

Porcentagem satisfeita com a educação

Resultados QIHC* (pontuações 1-100)

Venezuela

84

55,1

Cingapura

82

100,0

Reino Unido

82

82,3

Cuba

82

86,1

Uruguai

76

71,3

Paraguai

75

60,5

Bolívia

73

59,8

Honduras

73

56,4

República Dominicana

72

57,1

Colômbia

72

62,0

Taiwan

70

96,7

Japão

70

92,2

México

68

63,7

Estados Unidos

67

82,4

Brasil

64

62,9

Chile

63

64,3

Senegal

55

22,8

Argentina

54

65,6

Uganda

52

55,0

Mauritânia

48

22,7

Fonte: Gallup 2007 e Altinok e Murseli (2007)

*Nota: QIHC: Indicadores qualitativos de capital humano.

 

Mas o estudo mostra ainda que as informações, por si só, não são uma receita mágica para melhorar a qualidade. O sistema educacional e os formuladores de políticas precisam aprender como canalizar a insatisfação do  do público em políticas eficazes para que a qualidade seja melhorada, concluiu o estudo.

“É preciso aumentar a consciência da população sobre a importância de uma boa educação”, disse Navarro. “Ao mesmo tempo, os governos devem preparar  programas e instituições que lhes permitam lidar com a crescente onda de críticas direcionadas às escolas e autoridades, conforme os pais forem ficando mais instruídos.”

 

Fonte de crescimento

 

A educação tem sido a principal fonte de crescimento econômico na Ásia. Na América Latina e no Caribe, porém, tem desempenhado papel reduzido nos últimos 30 anos. A maior parte do crescimento da região, ocorrida entre 1972 e 2000, pode ser atribuída a um aumento da força de trabalho, enquanto no sul e no leste da Ásia os principais impulsionadores do crescimento foram o capital humano e a produtividade.

“O maior número de anos de escolaridade de um número crescente de crianças latino-americanas não tem necessariamente se traduzido em crescimento da produtividade, prosperidade e melhoria do bem-estar”, disse Navarro.

Os resultados sugerem que os latino-americanos não estão colhendo os benefícios do aumento das matrículas de crianças no sistema educacional e do número crescente de anos que sua população permanece na escola.

A América Latina e o Caribe fizeram progressos importantes na educação no último século. Os índices de alfabetização na região dobraram desde a década de 1930 para 86%. A média de anos de escolaridade da população de 15 anos ou mais na região dobrou para 7 anos em 2000, em relação a 3,5 anos em 1960, de acordo com o estudo.

Hoje, na região, a maioria das crianças de todos os contextos socioeconômicos e étnicos pode freqüentar a escola. O acesso à pré-escola assemelha-se atualmente aos níveis das nações desenvolvidas , enquanto a educação secundária apresentou uma expansão acelerada nas duas últimas décadas. A educação superior difundiu-se, possibilitando que estudantes de baixa renda conseguissem obter um diploma universitário. A educação está mais igualmente distribuída na região, ajudando a aliviar os efeitos da desigualdade de renda.

Essas melhoras no sistema educacional possibilitarão que a maioria dos países da região alcance em 2015 a Meta de Desenvolvimento do Milênio de educação primária universal, segundo o estudo.

Ainda assim, esses progressos não foram suficientes para melhorar a qualidade da educação. Os estudantes da região têm um desempenho muito pior em avaliações internacionais de estudantes do que os da Ásia, um dos principais concorrentes da região no comércio internacional, e da Europa.

A pontuação média de estudantes de 15 anos de idade dos sete países latino-americanos que participaram do teste do Programa de Avaliação Internacional de Alunos (PISA), realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é cerca de um nível abaixo da pontuação média dos 25% estudantes com pior desempenho da OCDE, de acordo com o estudo.

Além disso, de 20% a 40% dos estudantes dos setes países latino-americanos avaliados tiveram pontuação menor do que o nível de competência mais baixo do teste, o que significa que não dominam as competências básicas. Os países latino-americanos que participaram do programa de avaliação foram Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai.

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