Desde a era colonial, em que a Espanha tentava controlar o seu extenso império mediante a concentração de poder em alguns poucos vice-reinados, o governo na América Latina sempre tendeu a ser altamente centralizado. Essa tendência persiste ainda hoje, conquanto as autoridades centrais estejam finalmente começando a delegar poderes aos níveis administrativos inferiores, como as províncias e os municípios.
Um dos indicadores mais simples do grau de centralização de um país é a porcentagem do total dos gastos do governo realizada por governos subnacionais. Na média, esse montante chegou a apenas 15% na América Latina em 1995, contra 35% dos países industrializados da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE). Existem exceções: o Brasil e a Argentina sempre deram mais poder a seus Estados ou províncias, em parte porque o tamanho de seus territórios torna impraticável a centralização extrema, e a Colômbia historicamente sempre atribuiu considerável autonomia a seus departamentos.
Ao longo da última década, porém, o ressurgimento da democracia e do ativismo cívico em toda a região levou à eleição de governos estaduais e municipais que passaram a exigir maior controle dos recursos que afetam as suas bases eleitorais. O resultado é que a região como um todo apresenta uma tendência lenta mas inconfundível rumo à descentralização. De acordo com pesquisa realizada pelo BID e incluída na edição de 1997 do Economic and Social Progress in Latin America, entre 1985 e 1995 a percentagem dos gastos públicos realizados pelos governos subnacionais cresceu de cerca de 34% para 50% na Argentina, de 33% para 40% na Colômbia, de 3% para 10% no Peru e de 4% para 14% no Chile.
Mas, mesmo nesses países, a descentralização está afetando a alguns aspectos mais que a outros. De um lado, há muito que os governos centrais vêm demonstrando grande disposição para passar a administração da coleta de lixo, da manutenção das ruas das cidades e dos transportes urbanos para os governos locais. Agora, mesmo setores como serviços de água, saúde e educação estão gradualmente sendo descentralizados. Mas aeroportos, telecomunicações, portos e ferrovias ainda permanecem em grande parte nas mãos de uma única autoridade central.