Os corretores de imóveis costumam dizer que as três coisas mais importantes a se observar na compra de uma casa são localização, localização e localização.
A geografia é da maior importância, e não apenas na compra e venda de imóveis. Um número cada vez maior de economistas e historiadores estão usando as ferramentas dessa venerável disciplina acadêmica para sondar os mistérios sobre por que algumas nações conseguem grande êxito econômico, propiciando a seus cidadãos padrões de vida elevados, e outras não conseguem. Eles argumentam que as análises convencionais baseadas exclusivamente em fatores socioeconômicos só revelam parte da história.
Entre os que dizem que se deve dar à geografia o lugar que lhe é devido se encontram John Luke Gallup e Jeffrey D. Sachs, do Instituto de Desenvolvimento Internacional de Harvard. Um documento que eles prepararam sobre o tema "Geografia e desenvolvimento econômico" foi apresentado por Gallup em um recente seminário na sede do BID em Washington, D.C.
Em sua análise, Gallup e Sachs identificam numerosos fatores geográficos que limitam os esforços de um país para alcançar o sucesso econômico. Entre eles estão:
-- Localização tropical, com uma carga maior de doenças e redução da produtividade agrícola;
-- Falta de acesso ao litoral ou a cursos de água navegáveis, o que aumenta o custo de transporte dos produtos para o mercado e impede a migração da mão-de-obra para áreas de maiores oportunidades econômicas;
-- Alta densidade populacional, fator negativo nas áreas interiores, embora não necessariamente nas regiões costeiras.
À luz desses fatores, não surpreende que os países litorâneos e temperados do hemisfério norte -- Europa ocidental, nordeste da Ásia, costas oriental e ocidental dos Estados Unidos e do Canadá -- abriguem os maiores centros financeiros e produtivos do mundo.
Embora a geografia tenha uma forte influência sobre o destino econômico da sociedade, Gallup e Sachs destacam que outros fatores, como a política econômica e a qualidade das instituições, também devem ser levados em conta. Eles citam o exemplo da Coréia do Norte, país favorecido geograficamente cuja economia vem sofrendo devido à adoção de políticas mal orientadas.
De acordo com os autores, uma compreensão melhor das realidades geográficas poderia persuadir os formuladores de políticas a repensar algumas prioridades de assistência ao desenvolvimento. Poderiam, por exemplo, dar prioridade maior à solução das necessidades de transporte em países sem saída para o mar, o que exigiria a cooperação dos países vizinhos. Poderiam também dispensar maior atenção à possibilidade e à necessidade de migrações futuras em larga escala de regiões geograficamente desfavorecidas.
A população deve ser outra parte importante da equação de políticas. Gallup e Sachs observam que os futuros aumentos demográficos provavelmente serão maiores exatamente nos países com maiores desvantagens do ponto de vista geográfico e econômico e que esses aumentos diminuirão ainda mais a sua renda per capita.
Finalmente, o estudo sugere que as políticas econômicas, bem como a ajuda externa, devem levar em conta os pontos geográficos fortes e fracos do país. Devem-se direcionar mais recursos para superar as limitações à produção agrícola e melhorar a saúde. No momento, a pesquisa sobre agricultura tropical carece de grave falta de recursos, de acordo com o estudo, e os problemas de saúde nos trópicos estão recebendo atenção ainda menor.