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Felicidade e violência: vítimas de crimes tendem a defender medidas mais brandas

Você é feliz? Você sorriu ontem? Cada vez mais os economistas estão colocando perguntas emocionais como essas no centro de seus estudos, em uma tentativa de descobrir as ligações entre felicidade, comportamento humano, crenças e políticas.

 

Embora a criminalidade tenha recebido relativamente pouca atenção em pesquisas sobre felicidade, um novo estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento revela dados surpreendentes: vítimas de crimes não são menos felizes que outras pessoas. Além disso, elas tendem a defender medidas mais brandas para conter a criminalidade, em lugar de medidas punitivas como sentenças de prisão mais longas e pena de morte.

 

A economia da felicidade desafia indicadores mais restritos de bem-estar, como renda e PIB, ao captar uma série de outros fatores subjetivos que têm impacto sobre o bem-estar, preferências e tomadas de decisões individuais. Neste caso, os pesquisadores Rafael Di Tella e Ernesto Schargrodsky encontraram uma correlação significativa entre vitimização e posições com frequência associadas a tendências políticas liberais.

 

Publicado em novembro de 2009, o estudo, Happiness, Ideology and Crime in Argentine Cities, foi baseado em mais de 2.300 entrevistas conduzidas ao longo de dois anos em seis cidades argentinas. Cerca de um terço dos entrevistados relataram que eles ou um membro de sua família haviam sido vítimas de algum crime no ano anterior. No entanto, os pesquisadores não encontraram nenhuma correlação entre a vitimização e uma redução da felicidade.

 

Isso coincide com estudos anteriores em ambientes com alto grau de criminalidade. Di Tella e Schargrodsky sugerem que os entrevistados argentinos, como os de outros países com criminalidade significativa, possam ter se adaptado às taxas elevadas de violência. Alguns podem até ter a expectativa de vir a ser vítimas de crime, o que reduz seu impacto sobre a felicidade e o bem-estar.

 

De acordo com o estudo, as vítimas de crimes tendem a acreditar que a distribuição de renda é muito desigual e que os criminosos não deveriam ser punidos com rigor excessivo. Em vez disso, defendem melhoras na educação e no emprego para reduzir a desigualdade.

 

Vítimas de crimes podem se tornar mais conscientes de desigualdades sociais do que outras pessoas, conjetura o estudo. Isso pode levar a uma maior sensibilidade para a falta de opções que leva à criminalidade.

 

Esses achados corroboram estudos anteriores que fazem uma ligação entre criminalidade e posições ideológicas na América Latina. Pessoas que foram vitimizadas tendem a se colocar mais à esquerda no espectro político, acreditando que a distribuição de renda é injusta e a privatização é prejudicial para a economia de um país. A ligação entre vitimização e indulgência pendendo para a esquerda pode ajudar a explicar por que tendências antimercado estão com frequência entranhadas em ambientes relativamente inseguros.

 

Na América Latina, onde a criminalidade é elevada e as taxas de homicídios regionais são mais que o dobro da média mundial, essa tendência pode ter um impacto significativo sobre as preferências dos eleitores. Se políticas redistributivas prejudicarem o crescimento econômico na região e a falta de crescimento contribuir para impulsionar as taxas de criminalidade, a América Latina pode se ver presa em um círculo vicioso.

 

“O crime pode incentivar crenças que promovem políticas que, por sua vez, reduzem o crescimento e intensificam o crime”, concluiu o relatório.

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