FORTALEZA, Brasil – Economistas de renome e outros especialistas em América Latina e Caribe alertaram hoje para o fato de que há uma reação contra o processo de reformas que está varrendo a região, acrescentando que serão necessárias novas abordagens no combate a questões prementes como corrupção, desigualdade de renda, arrecadações fiscais desiguais e desilusão com a democracia.
Um documento apresentado por dois economistas, Eduardo Lora, assessor-chefe do Departamento de Pesquisas do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e Ugo Panizza, economista do Banco, destacou a crescente insatisfação com as reformas nos últimos anos, especialmente entre a classe média.
Pesquisas de opinião recentes mostram que os latino-americanos têm um conceito muito baixo das ondas de privatização de empresas estatais ocorridas na década de 90: 63% dos entrevistados consideram o resultado negativo.
“O que frustra os latino-americanos não são as privatizações em si, mas a corrupção que as cerca em alguns países”, comentou Lora.
Dois em três latino-americanos estão insatisfeitos com os resultados da democracia e apenas um em cada dois acreditam que a democracia é a melhor forma de governo, segundo pesquisa de opinião sobre o tema.
O documento concluiu que, apesar da decepcionante taxa de crescimento registrada na década de 90 e da recessão atual, a região deve dar prosseguimento às reformas com maior cautela, integrando o fortalecimento de instituições públicas e privadas para que as reformas funcionem, enquanto se adotam medidas que propiciem o aumento de renda em bases eqüitativas.
O estudo observou, igualmente, que algumas reformas foram mais bem sucedidas do que outras – a liberalização comercial e as reformas financeiras avançaram bem, a reforma fiscal e as privatizações foram desiguais, enquanto a reforma trabalhista foi insuficiente.
Lora e Panizza apresentaram seu documento no seminário “A Reformulação das Reformas”, um dos vários eventos que acontecem em Fortaleza no marco da 43ª Assembléia Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Apesar da desigualdade que caracterizou o processo de reformas na década de 90, “a renda per capita na América Latina é 11% superior ao que seria sem as reformas”, afirmaram Lora e Panizza.
O presidente do BID, Enrique V. Iglesias, e o economista-chefe do ministério do Planejamento do Brasil, Joaquim Vieira Ferreira Levy, abriram o seminário, que foi presidido pelo economista-chefe do BID, Guillermo Calvo.
Os demais oradores foram Andrés Velasco, professor da Universidade de Harvard; Augusto de la Torre, técnico do Banco Mundial; a destacada economista brasileira Eliana Cardoso; o ex-ministro da Economia da Argentina, José Luís Machinea; e o ex-ministro da Fazenda do México, Angel Gurría.
Velasco declarou que serão necessários muitos anos até que se tenham dados que permitam avaliar a eficácia e a eficiência das reformas dos anos 90. “No longo prazo, temos de ser mais otimistas”, acrescentou.
Segundo Machinea, a necessidade premente de reformas do início da década de 90 resultou em uma “miopia” em relação à sua forma de execução.