Resquícios culturais inestimáveis de um período misterioso e magnífico da história do povo aimará foram protegidos de saqueadores e das intempéries graças a uma nova estrada.
O trabalho de preservação foi levado a cabo em 15 sítios nas áreas de Warijana e Pujrata no altiplano andino, como parte de um projeto financiado pelo BID para construir a rodovia Patacamayo-Tambo Quemado, ligando a Bolívia ao Chile.
Os antropólogos que trabalham no projeto Amaya Uta identificaram 44 túmulos, realizaram trabalhos de conservação em seis deles e mandaram 21 contêineres com os restos humanos e culturais para La Paz para análise e eventual exposição no Museu Nacional de Antropologia.
Os túmulos, que datam do período que se seguiu à queda do império Tiawanaco, por volta do ano 1200 A.D., consistem em torres de argila chamadas ch'ullpares. Os corpos encontrados dentro deles tinham sido mumificados por meio de um processo de evisceração e enchimento da cavidade abdominal e colocados em cestos de vime, o que promovia a desidratação e não permitia a reidratação.
Antes de ser enterrados, os corpos eram vestidos com roupas suntuosas, decorados com plumas de pássaros exóticos e jóias feitas de metais preciosos, o que demonstra ou o contato com as planícies da Amazônia ou o domínio sobre ela.
Estudos radiográficos das múmias indicam que as pessoas eram bem nutridas. Para evitar que passassem fome ou sede no além, os mortos eram providos de potes contendo milho, batatas, quinoa (um cereal dos Andes) e chicha (uma bebida tradicional).
Uma grande porcentagem dos crânios mostrava deformação deliberada durante a infância, símbolo de classe social. Um dos crânios apresentava sinais de uma trepanação dupla em que ambas as perfurações mostravam sinais de crescimento do osso, prova de que a pessoa tinha sobrevivido a duas operações realizadas por cirurgiões competentes.
As torres de sepultamento, apesar de feitas apenas com barro e palha, sobreviveram quase 1.000 anos de fortes ventos, sol inclemente, temperaturas extremamente baixas e chuvas torrenciais. Ao proteger as múmias, preservaram uma ligação enigmática com um passado magnífico.