As mangas produzidas no Haiti estão entre as melhores do mundo, mas quase metade de sua colheita é perdida antes de chegar aos mercados. Apenas cerca de 10% das frutas são exportadas. E, paradoxalmente para um país com 10 milhões de mangueiras, o Haiti importa suco de manga.
Em uma tentativa de lidar com alguns dos principais problemas que afetam a cadeia de valor da manga no Haiti, o FUMIN (Fundo Multilateral de Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento) e a The Coca Cola Company estabeleceram uma parceria no projeto Haiti Hope, que foi apresentado na Organização das Nações Unidas durante uma conferência de doadores internacionais.
O projeto de cinco anos, orçado em US$ 7,5 milhões - a The Coca Cola Company pretende contribuir com US$ 3,5 milhões e o FUMIN, com US$ 3 milhões, - apoiará o desenvolvimento de uma indústria de suco de manga sustentável no Haiti, visando dobrar a renda de cerca de 25.000 agricultores e suas famílias.
Na cerimônia de lançamento do projeto, o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, Enviado Especial da ONU para o Haiti, elogiou o BID/FUMIN e a The Coca Cola Company pela iniciativa, observando que isso ajudará a fortalecer a agricultura haitiana, que é a maior fonte de empregos do país. “Este projeto é realmente importante não só pelo que fará, mas pelo que simboliza”, disse o presidente Clinton. “É um exemplo do que devemos fazer.”
O primeiro-ministro do Haiti, Jean-Max Bellerive, disse esperar que esse projeto torne-se um exemplo do que as empresas estrangeiras e locais podem fazer para criar mais oportunidades econômicas para o povo haitiano. “Ao longo dos últimos três meses, eu venho dizendo ‘obrigado’ pela extraordinária ajuda internacional ao meu país”, disse ele. “Espero ter condições de usar também outras palavras com mais frequência, como ‘empregos, PIB e desenvolvimento’.”
O presidente do BID, Luis Alberto Moreno, sublinhou a importância da participação da The Coca Cola Company no projeto, por enviar um sinal poderoso para outras grandes corporações sobre o que elas poderiam fazer para ajudar os haitianos a construir um futuro mais próspero.
O presidente e diretor executivo da The Coca Cola Company, Muhtar Kent, contou aos participantes do evento da ONU que a ideia do projeto surgiu em uma conversa que ele teve com Moreno em fevereiro, durante uma conferência empresarial na Suíça. Enquanto discutiam como o setor privado poderia ajudar o Haiti a recuperar-se depois do terremoto, o presidente do BID comentou que o país tinha um forte potencial como produtor de mangas.
Sete semanas mais tarde, a Odwalla, uma subsidiária da The Coca Cola Company, já estava distribuindo o novo suco Haiti Hope Mango Lime-Aid para as redes Whole Foods e Wal-Mart nos Estados Unidos. Todos os lucros das vendas da nova bebida irão para o projeto.
De acordo com o FUMIN, o projeto Haiti Hope trará benefícios a toda a cadeia de valor da manga, desde agricultores que possuem apenas algumas árvores até exportadores, alem das empresas de processamento da fruta.
O projeto será executado pela TechnoServe, uma organização norte-americana sem fins lucrativos especializada em combater a pobreza ajudando pessoas em países em desenvolvimento a construir negócios. A TechnoServe, que atuará em parceria com o governo haitiano e com organizações locais, também está trabalhando com a The Coca Cola Company em projetos relacionados à manga na África.
O projeto capacitará os agricultores a fim de aumentar a produtividade das árvores, aperfeiçoar suas atividades comerciais e diversificar as atividades geradoras de renda de modo a reduzir o risco da dependência de um único tipo de produção agrícola para obtenção de receita. Também proporcionará assistência para o estabelecimento de organizações de plantadores de manga com o objetivo de fortalecer o poder de negociação de plantadores individuais e melhorar seu acesso aos mercados.
Todos os participantes da cadeia de valor da manga receberão apoio para melhorar o manuseio pós-colheita, um estágio em que boa parte da fruta é perdida. Dificuldades logísticas e má condições das estradas também são fatores que prejudicam a produção agrícola e as vendas em todo o Haiti, embora, em anos recentes, o governo tenha ampliado seus investimentos em rodovias, estradas secundárias e estradas rurais.
O projeto Haiti Hope também explorará novos usos para variedades de manga não exportadas pelo Haiti (no momento, apenas a valorizada variedade Francis é vendida nos Estados Unidos), como a fruta desidratada ou em polpa ou seu processamento em suco.
Em última instância, o FUMIN e a The Coca Cola Company esperam que esse projeto faça diferença na vida de pequenos plantadores em todo o Haiti, disse Julie T. Katzman, gerente geral e chefe do FUMIN. “Os agricultores que hoje possuem apenas quatro ou cinco mangueiras e recebem apenas 10% do preço de exportação devem se tornar capazes de captar uma parcela maior do valor agregado de suas mangas. O passo seguinte é adquirir mais árvores, colher mais frutas e, talvez, um dia, até investir em uma unidade de processamento de suco, transformando o futuro de suas famílias”, concluiu.