AREQUIPA, Peru – O setor de microfinanças da América Latina e do Caribe tornou-se um líder mundial em serviços a empresários de baixa renda, mas precisa alcançar milhões de clientes potenciais que ainda não dispõem de acesso ao crédito formal, disse o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Luis Alberto Moreno.
Na abertura do Fórum Interamericano da Microempresa (Foromic) na noite de quarta-feira, Moreno observou que o setor de microfinanças continuou a crescer, ainda que em um ritmo mais lento devido à crise econômica global. De acordo com o Fundo Multilateral de Investimentos (Fumin) do BID, no final de 2008 havia 636 instituições na região com cerca de 9,5 milhões de clientes de microcrédito e uma carteira total de empréstimos de aproximadamente US$ 11 bilhões.
“Ainda há milhões de clientes potenciais em nossa região esperando para serem atendidos. Apesar de todos os nossos esforços, não atingimos mais do que 15% do mercado”, disse Moreno. O Fumin estima que cerca de 60 milhões de microempresários ainda não têm acesso a crédito formal e outros serviços financeiros básicos.
Dirigindo-se a mais de 1.500 participantes na conferência, Moreno destacou o Peru como exemplo de um país que está se empenhando para assegurar que o crescimento econômico beneficie todos os seus cidadãos. O Peru tem o melhor ambiente de negócios do mundo para as microfinanças, de acordo com um ranking desenvolvido pela Economist Intelligence Unit.
O presidente peruano Alan Garcia, que fez um pronunciamento na cerimônia de abertura do fórum, atribuiu a resistência econômica de seu país ao fato de que as pequenas empresas estão ajudando a suprir a demanda local. Essa é uma diferença fundamental entre a crise global atual e a Grande Depressão, disse ele. “As micro e pequenas empresas são as mais importantes para uma economia globalizada”, acrescentou Garcia.
As micro e pequenas empresas, que, tipicamente, empregam menos de 100 trabalhadores, constituem cerca de 90% de todas as empresas da América Latina e do Caribe, gerando a maior parte dos empregos nessa região.
O setor de microfinanças, que cresceu a partir de um punhado de organizações sem fins lucrativos que começaram a fazer pequenos empréstimos a mulheres pobres na década de 1970, tem feito imensos esforços para expandir, diversificar e profissionalizar seus serviços. Em anos recentes, ganhou acesso aos mercados financeiros formais, o que permitiu que as principais instituições fizessem uso de novas fontes de financiamento.
No entanto, quando a crise global se aprofundou, essas fontes secaram, forçando o setor de microfinanças a desacelerar sua expansão. Para lidar com o problema, o Fumin do BID está fazendo parcerias com outras agências de desenvolvimento, investidores do setor privado e a Overseas Private Sector Investment Corporation dos Estados Unidos para estabelecer um instrumento de crédito de US$ 250 milhões para financiar o crescimento do setor.
O instrumento, proposto mais no início deste ano pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, oferecerá às instituições de microfinanças da América Latina e do Caribe empréstimos de médio e longo prazo que as ajudarão a financiar suas atividades de microcrédito durante o período de recuperação econômica.
O Fumin, um fundo autônomo administrado pelo BID que promove o desenvolvimento das microempresas, também está lançando um programa de grande escala para atender outra necessidade urgente: a falta de cursos de capacitação empresarial destinados especificamente às mulheres empresárias.
O programa, que envolve parcerias entre instituições internacionais e locais, ajudará a capacitar mais de 100.000 mulheres no Peru. Os cursos, a ser desenvolvidos pelo principal microemprestador local, o MiBanco, e a Thunderbird School of Business Management sediada no Arizona, serão oferecidos gratuitamente a outras instituições da região.
Coincidentemente, o MiBanco ganhou o prêmio anual do BID para a melhor instituição de microfinanças da região. Uma importante instituição dominicana, o Banco ADOPEM, foi premiado pelos destacados esforços para estender seus serviços, uma vez que atende cerca de metade de todos os usuários de microcrédito de seu país. Uma associação colombiana de pequenos proprietários varejistas ganhou um prêmio por seus serviços de desenvolvimento empresarial.
Além disso, o BID também concedeu prêmios em dinheiro para três empresários peruanos selecionados por instituições de microfinanças locais por suas realizações empresariais e contribuições à comunidade.
O Foromic, que reúne a cada ano representantes de instituições de microfinanças, cooperativas de crédito, bancos comerciais, fundos de investimentos, reguladores bancários e agências de desenvolvimento nacionais e internacionais, prosseguirá quinta e sexta-feira.