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Bebês de hoje, empregos de amanhã

O que causa o desemprego? A maioria dos argumentos se concentra em fatores macroeconômicos -- taxas de juros e de câmbio, crescimento do PIB ou salário mínimo -- que levam as empresas a contratar ou demitir funcionários. A escolaridade, as leis trabalhistas e a tecnologia são também invocadas como possíveis causas do desemprego.

Mas e as taxas de natalidade? Em um recente seminário na sede do BID em Washington D.C., os economistas do BID Suzanne Duryea e Miguel Székely apresentaram um estudo em que argumentam que as tendências no comportamento reprodutivo podem ter um impacto significativo retardado sobre o desemprego.

Considere-se o papel dos jovens entre 15 e 25 anos que estão procurando emprego pela primeira vez ou em busca de novos empregos. O desemprego é tipicamente mais elevado nessa faixa etária, que tem habilidades e experiência limitadas para vender no mercado de trabalho. Portanto, se aumentar a proporção de jovens de 15 a 25 anos em relação aos demais grupos etários da força de trabalho, o desemprego geral também tenderá a subir.

Na América Latina, as provas desse argumento aparecem em locais surpreendentes. A Argentina, país que durante muito tempo teve uma das taxas de natalidade mais baixas da região, experimentou recentemente um surto considerável na proporção de sua população em idade de trabalhar composta de jovens entre 15 e 25 anos de idade (ver gráfico abaixo). A razão? Entre 1967 e 1975, a Argentina experimentou um modesto "baby boom", equivalente a um aumento de 10% na taxa de fertilidade. A taxa voltou subseqüentemente a seu nível anterior, mas a grande safra de bebês nascidos naquele período começou a procurar emprego no início da década de 90. Entre 1990 e 1996, a proporção de jovens de 15 a 25 anos no mercado de trabalho argentino pulou de 37% para 41%. Mesmo que todos os outros fatores fossem excluídos, Duryea e Székely calculam que esse surto no suprimento de trabalhadores teria aumentado o desemprego na Argentina em um ponto porcentual entre 1990 e 1996. Processo semelhante, embora menos pronunciado, é evidente no vizinho Uruguai.

No Brasil e na Colômbia, ao contrário, a proporção de jovens na força de trabalho vem caindo regularmente nos últimos anos, depois de ter atingido o seu pico na década de 80. Isso reflete a diminuição aguda da taxa de fertilidade nesses países, que começou no final dos anos 60 e continua até hoje. Embora o desemprego nesses dois países não tenha caído nos anos 90 (porque outros fatores macroeconômicos o empurrarram para cima), de acordo com os autores ele seria maior se a proporção de jovens entre 15 e 25 anos não tivesse diminuído. Embora seja impossível predizer as tendências do emprego no futuro, as atuais tendências da fertilidade indicam que os quatro países do gráfico experimentarão menos pressão na oferta de emprego para os jovens nos anos vindouros.
 

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