Trabalhadores mexicanos transportam pilhas de madeira toscamente serrada para o mercado. Mineiros nos poços de lama da mina de ouro de Serra Pelada no Brasil param para um descanso. Um close-up de três pés toscos e ásperos simboliza a hostilidade do ambiente andino.
Estas são imagens de pessoas comuns, que vivem vidas anônimas. São também lembretes pungentes das realidades da pobreza e da missão de instituições como o BID.
A exposição "Outras Américas", do conhecido fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que pôde ser vista recentemente na sede do BID em Washington, D.C., foi apresentada como parte de uma série de conferências e eventos culturais em comemoração do dia nacional do Brasil. As fotografias mostram gente do nordeste do Brasil, do Chile, da Bolívia, do Peru, do Equador, da Guatemala e do México - "estas Américas Latinas tão misteriosas e sofridas, tão heróicas e nobres", escreve o fotógrafo no texto que acompanha suas fotos.
Conquanto possam ser vistas como arte, as fotografias também retratam o lado humano do desenvolvimento econômico e social. De fato, a formação de Sebastião Salgado foi na área da economia, primeiro em São Paulo e depois em Paris. Após uma temporada na Organização Internacional do Café em Londres, voltou-se para a fotografia, documentando a fome no Sahel. Em seguida, trabalhou para diversas agências de fotografia, inclusive a agência de elite Magnum, com sede em Nova York. Atualmente, mora em Paris, França, onde criou sua própria agência, a Amazonas Images.
Sebastião Salgado escolhe seus próprios temas e o resultado final em geral passa a ser uma coleção de fotografias em forma de livro. "Outras Américas", sua primeira coleção, foi seguida de um projeto sobre o Sahel na África e, depois, uma incursão sobre o tema do trabalho.
Independentemente dos temas, Salgado nunca deixa de comunicar o seu intenso interesse pelas pessoas. Usa o poder da imagem em preto e branco, que ignora as distrações da cor e do movimento, para capturar a essência de luz e sombra de seu tema. Em mãos menos capazes, atingir este nível de beleza formal significaria mascarar as dimensões humanas do sujeito, mas no caso de Sebastião Salgado a elegância da imagem abstrata coloca a humanidade de seus sujeitos ainda mais em relevo. Os pobres têm nobreza, mas não existe nada de nobre na pobreza.
Salgado trabalha na tradição consagrada pelo tempo da fotografia documental, mas documenta vidas de pessoas, não eventos jornalísticos.
"Alguns fotógrafos falam sobre como a técnica funcionou ou a situação em geral", observou um editor da Magnum, citado pela revista Americas. "Sebastião conta pequenas histórias do que as pessoas falaram. Ele está muito próximo das pessoas que fotografa."
Sebastião Salgado ganhou inúmeros prêmios, entre os quais o Prêmio Eugene Smith de Fotografia Humanitária (EUA), o Prêmio Oskar Barnack (Alemanha), o Prêmio Rey de España (Espanha), o Prêmio Erna e Victor Hasselblad (Suécia), o Grande Prêmio de la Ville de Paris (França), o Grand Prix National du Ministère de la Culture et de la Francophonie (França) e o Prêmio Centenary Medal and Honorary Fellowship, da Royal Photographic Society da Grã-Bretanha.