A destruição provocada pelo furacão Mitch privou milhões de pessoas da América Central de seus entes queridos, suas casas e seus negócios, em alguns casos até mesmo do solo debaixo de seus pés.
Ela também levou o prefeito de Tegucigalpa, capital de Honduras. Isso teria sido muito ruim em tempos normais, ou se César Castellanos fosse um prefeito normal. Mas para muitos em Tegucigalpa a sua morte em 1º de novembro foi uma perda especialmente trágica.
Depois de assumir o cargo em janeiro último, Castellanos rapidamente se afirmou como um ativista em tempo integral, totalmente comprometido com o funcionamento de sua cidade. ¡A trabajar! Era o seu grito de guerra, repetido com freqüência.
Tinha também uma personalidade marcante e se denominava de "El Gordito", como uma maneira de romper as barreiras entre o seu gabinete e as suas bases eleitorais.
Quando o furacão Mitch se abateu sobre Tegucigalpa, os moradores sabiam que pelo menos lhes sobrava uma fonte inesgotável de ânimo, pois tinham um líder que conquistara a sua confiança e o seu respeito. Castellanos atirou-se de corpo e alma à tarefa de fazer o que podia para reduzir a tragédia, indo até mesmo de casa em casa em áreas de alto risco, advertindo as pessoas para abandonar o local.
Em 1º de novembro, enquanto o furacão continuava despejando quantidades recordes de chuva sobre Honduras, Castellanos embarcou em um helicóptero para visitar um trecho do rio Choluteca em que os destroços estavam represando a água e ameaçando provocar danos ainda maiores. O seu helicóptero se encontrava a apenas alguns metros do solo quando um defeito elétrico desencadeou um incêndio. Castellanos, um funcionário da prefeitura e o piloto morreram na queda.
Elogiado pelo colunista Mario Posas do El Heraldo como "um dos mais entusiastas e populares prefeitos dos últimos tempos", Castellanos também foi um dos mais teatrais. Determinado a alcançar todos os níveis da sociedade com a sua mensagem de melhoria cívica, ele serviu pratos de espaguete aos pobres, assumiu pessoalmente a campanha de limpeza dos mercados da cidade e convocou a população para a criação de um "Clube dos Porcos" para aqueles que ignoravam as suas exortações para manter a cidade limpa.
Duas horas depois de ter tomado posse como prefeito, ele e centenas de seus seguidores apareceram em um bairro pobre para inaugurar um novo campo de futebol.
Castellanos comandou equipes para consertar ruas e plantar árvores nos parques. Reuniu-se pessoalmente com os proprietários de bordéis para convencê-los a se mudar para áreas em que causassem menos transtornos à comunidade. Jogou duro com os vendedores de rua, apertou o cerco com multas aos proprietários de imóveis que não tomavam medidas para evitar incêndios e lançou programas de ajuda às crianças.
Embora fosse um político nato com claras ambições presidenciais, Castellanos trabalhou a maior parte de sua carreira profissional na área da medicina e da saúde pública. Especializado em neurocirurgia, ocupou cargos em associações nacionais e internacionais, tendo realizado mais de 3.000 operações. Nomeado Ministro da Saúde de seu país, foi votado por três anos consecutivos como o melhor membro do governo. Foi presidente do Comitê Executivo da Organização Pan-Americana da Saúde e presidente da Federação Latino-Americana de Neurocirurgia.
Castellanos era o tipo de pessoa cuja perda seria sentida até mesmo nas circunstâncias mais favoráveis. O seu apelo ¡a trabajar! fará uma enorme falta.