Paul Constance, Délugé-Piatre, Haiti
O tráfego na rodovia que vai de Porto Príncipe até a costa oeste do Haiti costumava ficar interrompido em Délugé-Piatre, um par de comunidades litorâneas situadas cerca de 70 km ao norte da capital.
Em dias de mercado, o trecho da estrada que passa pelo centro da cidade transformava-se numa feira em que várias centenas de vendedores ofereciam frutas, verduras, carvão, sandálias, carne de cabra, peixe e inúmeras outras mercadorias. Espremidos ombro a ombro em ambos os lados da pista, os comerciantes expunham seus produtos em pequenas pilhas no chão, deixando um estreito corredor para a passagem de caminhões, carros e ônibus. Porém, como o corredor ficava cheio de compradores, os veículos tinham de avançar muito lentamente, por mais que acionassem a buzina.
Uma cena típica no mercado antigo, que obstruía parcialmente a rodovia.
Pó e fumaça do escapamento dos veículos misturavam-se ao cheiro de verduras frescas e animais recém-sacrificados. O cenário era caótico, perigoso e decididamente anti-higiênico.
“Havia muitos acidentes naquele trecho de estrada nos dias de mercado”, lembrou Gerald Guerrier, membro de um comitê local de cidadãos que, seis anos atrás, começou a pressionar o governo para conseguir uma instalação adequada para o mercado. “Era impossível para as pessoas manter seus produtos limpos”, acrescentou.
O comitê entrou em contato com o Fonds d’Assistance Economique et Sociale (FAES), um órgão governamental financiado pelo BID que realiza projetos de infra-estrutura de alto impacto social. François Ducarmel, o diretor de projetos sociais do FAES, disse que os membros do comitê trabalharam em conjunto com sua equipe para adquirir um terreno a cerca de dois quarteirões da rodovia e chegar a um acordo sobre o projeto de um mercado moderno.
Produtos frescos à venda.
“O Mercado Délugé-Piatre é também uma história de reconciliação”, comentou Sophie Makonnen, a especialista nessa área, do escritório do BID no Haiti, e encarregada da supervisão do empréstimo que financiou o projeto. “As duas comunidades tinham um histórico de relações difíceis, e o fato de terem conseguido se juntar para cooperar nesse projeto foi uma grande conquista. Ambos os lados participaram ativamente da fase de construção, visitando o local todos os dias, e chegaram até mesmo a formar um comitê para supervisionar a operação do mercado.”
O projeto escolhido apresenta dois grandes prédios, com piso de concreto e balcões para exposição de produtos, capaz de acomodar 300 vendedores. O complexo, cuja construção custou por volta de US$150.000, também tem espaço para os escritórios do comitê administrador do mercado.
Em 5 de agosto de 2005, depois de uma vistosa cerimônia que contou com discursos do ministro da Agricultura do Haiti, do prefeito de Saint-Marc (a maior cidade próxima) e de várias autoridades do governo, o novo mercado foi oficialmente inaugurado. Um padre local abençoou as instalações, que são pintadas de azul brilhante e oferecem vista panorâmica do mar do Caribe. Vários jovens dançarinos apresentaram-se para o grande público que compareceu ao evento, e depois todos puseram-se a circular por entre os balcões repletos de produtos agrícolas, carnes e outras mercadorias.
Emilio Cueto, o representante do BID no Haiti, também discursou na cerimônia de inauguração. “O mercado está lindo”, Cueto contou depois à BIDAmérica. “Duvido que exista um mercado mais sólido, prático, higiênico e funcional em todo o Haiti. E o mais importante é que o comitê administrador do mercado participou ativamente do projeto desde o início e está muito orgulhoso do resultado.”
Vista interna de um dos novos pavilhões cobertos do mercado.
Ducarmel contou à BIDAmérica que o FAES espera reproduzir o projeto do mercado em várias outras cidades haitianas que ainda mantêm mercados inseguros à beira de estradas. Quatro novos mercados estão atualmente em estudo ou construção com fundos do BID e há planos para vários outros.
O mercado foi apenas uma das melhorias de infra-estrutura que os habitantes de Délugé-Piatre identificaram como parte de um plano mais amplo de desenvolvimento comunitário. As estradas locais, o serviço de água, escolas e instalações de saúde precisam desesperadamente de investimentos. No momento, porém, os moradores podem pelo menos fazer compras num local limpo, seguro e protegido do sol. E, em vez de uma nuvem de monóxido de carbono, respiram às vezes a brisa do oceano.