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Quadro-negro, televisão ou tela de computador?

Carlos Cruz é presidente da Universidade Virtual do Instituto Tecnológico de Estudos Superiores de Monterrey (ITESM), no México, uma das mais prestigiadas universidades da América Latina. Líder tradicional da educação à distância por televisão via satélite, o ITESM, mais conhecido no México como "o Tec", está entrando vigorosamente na instrução baseada na Internet e abrindo o leque dos cursos oferecidos, que, tradicionalmente, concentravam-se na administração de empresas, tecnologia e administração geral. A Universidade Virtual do ITESM já tem escritórios em dez países da América Latina.

BIDAmérica:A educação via Internet é dispendiosa e exige equipamento caro. Será algum dia relevante para a maioria dos latino-americanos, que são pobres ou vivem em áreas remotas?

Nós achamos que sim. Por meio da tecnologia de satélites, já é possível atingir pequenas comunidades rurais onde não existe sequer um telefone. Faz pouco tempo instalamos uma conexão de satélite num centro comunitário em Santa Ana de Allende . O centro conta com dez computadores, compartilhados pelos residentes, e a conexão com o satélite custa apenas US$6.000. Está chegando ao mercado tecnologia de satélite que já custa cerca de US$3.500 para fazer a mesma coisa, e os preços continuam a cair. Claro, ainda é muito dinheiro, mas se os custos são divididos pela comunidade, tornam-se razoáveis. E assim não precisamos esperar que a rede telefônica chegue a essas zonas.

No Tec nós vemos uma extraordinária oportunidade para transpor o fosso do desenvolvimento. Nosso novo mandato é ultrapassar o setor empresarial e forjar parcerias com pequenas comunidades, governos e educadores que necessitem de serviços de educação permanente.

BIDAmérica: O ITESM tem fama como provedor de educação à distância pela televisão. Será realmente viável substituir esse programa por cursos transmitidos exclusivamente pela Internet?

Nós começamos onze anos atrás, usando televisão via satélite. Há cinco anos, começamos a usar a Internet. Hoje oferecemos muitos de nossos programas de pós-graduação pela Internet, usando televisão via satélite como complemento. De modo que hoje temos todo tipo de programa: por televisão, exclusivamente pela Internet e por uma combinação das duas tecnologias. Em alguns programas, como é o caso de nosso mestrado em comércio eletrônico, o aluno pode optar por qualquer das três possibilidades, conforme sua conveniência.

No momento, o Tec tem mais de 1.200 pessoas estudando exclusivamente por Internet e cerca de 12.000 em programas mistos. Mas acho que dentro de cinco anos a maioria de nossos cursos serão oferecidos totalmente pela Internet, porque a essa altura teremos a largura de banda suficiente para oferecer assim recursos totalmente interativos a um custo razoável.

BIDAmérica: A maioria de seus estudantes já se formou e está trabalhando em programas de pós-graduação em áreas de administração. Vocês pretendem oferecer cursos de graduação em áreas acadêmicas, como história ou matemática?

Nós já fazemos isso. O primeiro doutorado que oferecemos pela Internet foi em educação, e cremos que nossa abordagem pode funcionar bem para todas as disciplinas, se for usada corretamente. É verdade que nossos programas de crescimento mais rápido, que são também aqueles para os quais oferecemos menos bolsas, são os relacionados com a administração de empresas. A maioria dos estudantes empenhados nesses programas pagam seus estudos. Mas em educação e em outras disciplinas trabalhamos com governos e sindicatos para desenvolver planos de pagamento e bolsas graças aos quais os seus membros também podem se diplomar conosco.

No momento, um mestrado convencional no Tec custa cerca de US$18.000, mas podemos oferecer a mesma formação pela Internet pela metade do preço. No começo, quando as pessoas se formavam em nossa universidade virtual, pediam para não mencionar esse fato no diploma. Agora, pedem destaque para o nome do Tec; querem que seus chefes saibam que já usam a tecnologia de modo sofisticado.

BIDAmérica: Quais os principais obstáculos encontrados ao tentar penetrar em outros países latino-americanos?

O problema maior são os diferentes níveis de desenvolvimento tecnológico. O Chile está muito desenvolvido, por exemplo, mas ainda há problemas no Equador e na Venezuela. Outra área complicada são as leis e regulamentos sobre a educação. Na Colômbia você precisa apresentar uma tese para receber o grau de mestre; no México, não. E os requisitos para o nível de bacharelado variam de país para país.

Devido a essas discrepâncias, adotamos a abordagem de cultivar boas relações com as instituições dos governos locais e formar parcerias com universidades locais, como a Universidade Católica no Chile e o Instituto Tecnológico de Buenos Aires. Em alguns países, conseguimos reconhecimento pleno para nossos diplomas. E estamos para abrir um escritório regional em Miami, para coordenar todos os escritórios regionais.

BIDAmérica: Vocês estão preocupados com a concorrência de empresas americanas, como a UNext ou a Universidade de Phoenix?

Estamos. São tremendas ameaças, mesmo porque têm recursos financeiros enormes. Planejamos gastar US$17 milhões em nossos esforços de educação por Internet nos três próximos anos, mas isso é nada comparado com o que a UNext pode gastar. Além disso, têm um pessoal excelente e tenho certeza que vão apresentar um excelente produto.

Por outro lado, nós já vendemos educação à distância de alta qualidade há muito tempo. Conhecemos as necessidades dos estudantes latino-americanos e já temos escritórios em dez países da região. Portanto, acho que temos condições de defender nossa posição.

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