Introdução
Quero aproveitar estas palavras de encerramento de nossa Reunião Anual para
agradecer ao Primeiro-Ministro das Bahamas, Hubert Ingraham, ao Primeiro-Ministro de
Barbados, David Thompson, e ao Primeiro-Ministro de Belize, Dean Barrow; também
quero agradecer novamente aos nossos anfitriões norte-americanos e à cidade de Miami,
às delegações dos países membros do Banco, a todos os painelistas e participantes de
seminários e reuniões, e, muito especialmente, aos funcionários do BID e de outras
organizações e empresas vinculadas a este evento, que com seu trabalho eficaz e discreto
tornaram possível o êxito deste encontro.
Para nós, a Reunião Anual é uma oportunidade singular de oferecer a todas as
pessoas interessadas uma janela aberta ao trabalho do Banco, e também escutar as
diversas perspectivas dos países membros e de representantes do setor privado, da
sociedade civil e de outras entidades comprometidas com o esforço conjunto e
transcendental do desenvolvimento. Este fórum nos permite tomar o pulso da situação da
América Latina e do Caribe, atualizar nosso conhecimento e afinar nossas estratégias e
enfoques.
Nesta ocasião, nos visitaram cerca de 5.000 pessoas, que participaram dos mais de
10 seminários e eventos sobre temas de atualidade e importância, como o banco móvel e
outras estratégias de democratização financeira, o papel da filantropia e de parcerias
público-privadas inovadoras na luta contra a pobreza e o desafio da mudança climática e
sustentabilidade energética.
O ambiente econômico
Os diálogos e trabalhos apresentados na Reunião Anual confirmam nossa
percepção generalizada de que as economias da América Latina e do Caribe estão
preparadas para enfrentar os efeitos da instabilidade nos mercados internacionais,
devido, principalmente, aos resultados macroeconômicos dos últimos anos.
O discurso do Governador pelos Estados Unidos ratificou este conceito,
ressaltando o esforço realizado para equilibrar as finanças públicas, reduzir os níveis de
endividamento e abrir os mercados. De fato, no âmbito regional, a dívida externa se
reduziu de 41,5% do PIB para 20,3% e as reservas internacionais aumentaram em
285 bilhões de dólares nos últimos cinco anos, ao mesmo tempo em que a renda por
habitante aumentou a taxas não vistas em 40 anos.
O bom desempenho econômico e a aplicação de políticas sociais eficazes e
inovadoras permitiram, como indicou o Secretário Executivo da CEPAL, reduzir a
porcentagem de pessoas que vivem em condições de pobreza e indigência em 20% e
34%, respectivamente, no último qüinqüênio.
No entanto, como nos disse o Governador pela Argentina, esta Reunião se realiza
num clima de incerteza, especialmente nas economias desenvolvidas. Devemos estar
alertas frente a esta etapa de turbulência econômica e financeira, adotando políticas
públicas sustentáveis para manter os níveis de crescimento, proteger os ganhos de
bem-estar e aprofundar a distribuição dos benefícios para os setores de mais baixa renda.
Dentro de um panorama regional que mostra sinais de força, devemos reconhecer
que alguns países enfrentam dificuldades, especialmente aqueles que devem enfrentar os
maiores custos do petróleo e dos alimentos.
Esta preocupação ficou explicitamente refletida nos discursos do Governador
pelas Bahamas, recolhendo uma percepção generalizada no Caribe e na América Central.
O BID está pronto e disposto a apoiar os países para mitigar os efeitos da conjuntura
sobre o tecido social.
Embora a maior integração ao mundo gere novos desafios, também apresenta
oportunidades inigualáveis para acelerar a trajetória ao progresso. Neste sentido, seguir
trabalhando em prol de uma integração maior e mais efetiva com a economia global é
uma tarefa fundamental. Como enfatizou a Governadora pelo Canadá em múltiplas
ocasiões, a Iniciativa de Ajuda para o Comércio (“Aid for Trade”) constitui a ferramenta
mais efetiva para poder aproveitar integralmente a abertura ao mundo.
A mudança climática
Os intercâmbios que se deram no âmbito da Assembléia e dos seminários
evidenciaram as preocupações dos especialistas e dos Governadores com a mudança
climática e seu impacto na Região e no mundo.
A apresentação de Ricardo Lagos, ex-Presidente do Chile e Enviado Especial para
a Mudança Climática do Secretário-Geral das Nações Unidas, manifestou que este
fenômeno coloca para a humanidade riscos de alcance amplo e imprevisível. Os efeitos
negativos sobre nossa qualidade de vida e a de gerações futuras requerem não só medidas
imediatas, mas também, e muito fundamentalmente, ações coordenadas da comunidade
internacional.
Compartilho a observação do Governador pela Alemanha, quando mencionou que
a mudança climática é uma ameaça para todos, mas com efeitos maiores sobre os pobres.
O Governador pela República Dominicana, por sua vez, insistiu firmemente nos efeitos
devastadores de uma maior incidência de desastres naturais associados a fatores
climáticos.
Coincido com o interesse expressado pelo Governador pelo México na Gestão
Integral de Riscos de Desastres Naturais e assumimos o compromisso de continuar
trabalhando para atender as vulnerabilidades de certos países e sub-regiões a riscos
catastróficos.
Compartilho a opinião do Governador pelo Japão sobre o papel de liderança que o
Banco deve ter neste tema. O Banco reconheceu a urgência e as características
supranacionais deste desafio e há um ano lançou a Iniciativa de Energia Sustentável e
Mudança Climática (SECCI), que busca apoiar os países em toda a gama de esforços de
política através de diversas ferramentas de financiamento, assistência técnica e
transferência de conhecimentos.
Como mencionou o Governador pela Guatemala, a busca de fontes de energia
alternativas deve fazer parte do menu de políticas. Estas, além de contribuir para a
mitigação do problema, podem se converter também em fontes de investimento, emprego
e bem-estar.
Novos enfoques para assegurar um crescimento sustentado e inclusivo
Sabemos que o crescimento sustentado e inclusivo na Região requer esforços
constantes e visão de longo prazo, mas também estratégias inovadoras e enfoques
criativos que vinculem novos atores a este projeto comum.
O trabalho tradicional do Banco focaliza a cooperação com os governos centrais
nos grandes temas de política pública. No entanto, a distribuição dos benefícios do
crescimento, como bem expressou o Governador pelo Brasil, implica fortalecer os
vínculos com outros atores estatais do desenvolvimento no âmbito estadual e municipal.
A melhoria das condições fiscais e da governança abre espaços de colaboração
com entidades subnacionais e empresas públicas em temas como a provisão de água
potável e saneamento que, como indicou a Governadora pela Áustria, são cruciais para
combater a pobreza e atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
O Banco realizou esforços sistemáticos para atender à crescente demanda de
financiamento sem garantia soberana e apoiar a melhoria das capacidades institucionais
locais, as quais, como sugeriu o Governador pelo Peru, são uma tarefa pendente na
Região.
O setor privado é um aliado poderoso na luta pela redução da pobreza, que
contribui com ações suplementares às que os governos podem realizar. Como sintetizou
de maneira eloqüente Bill Gates, o “capitalismo criativo” conta com uma singular
capacidade de elaborar e implementar soluções para os problemas do desenvolvimento,
baseadas em incentivos de mercado e com critérios sólidos de escalabilidade e
sustentabilidade.
A iniciativa Oportunidades para a Maioria, que o Banco vem impulsionando,
busca precisamente identificar, desenvolver e reproduzir projetos e parcerias com o setor
privado que tenham amplo impacto social e complementem as políticas públicas.
Não obstante, os desafios são tais que as ações do setor público e da iniciativa
privada não bastam. As parcerias com fundações, ONGs e doadores individuais serão
parte fundamental do esforço futuro do Banco para mobilizar novos recursos, catalisar
parcerias e gerar inovação.
Nesta Reunião lançamos “Yo Amo América”, um esforço conjunto com alguns
dos artistas mais renomados do nosso hemisfério para levar maciçamente a mensagem da
filantropia e da generosidade de recursos, tempo e, sobretudo, coração às novas gerações.
A música não só é uma das ferramentas mais potentes para comunicar mensagens
de mudança e influir sobre o destino da Região, mas também pode contribuir diretamente
para mudar vidas. O apoio que o Banco deu ao Sistema de Orquestras Juvenis e Infantis
da Venezuela, que beneficia anualmente 500 mil crianças e jovens, a maioria deles em
situação de pobreza e vulnerabilidade, é um exemplo claro da música como ferramenta de
construção de civismo, eqüidade e redução da pobreza.
Estas tarefas passam obrigatoriamente também pela inclusão de grupos
marginalizados. O Banco, como mencionou a Governadora pelo Reino Unido, deve
continuar apoiando temas de gênero dentro da sua estratégia para a pobreza.
A incorporação da mulher e de grupos étnicos excluídos é indispensável para atender
efetivamente os problemas de pobreza e desenvolvimento que nossos países enfrentam.
Novo Esquema Operacional
Todos os temas mencionados até aqui requerem um Banco sólido, inovador,
flexível e com maior musculatura financeira como indicou o Governador pela Colômbia.
A tarefa mais importante que nos ocupará no presente ano, e nisto concordamos
plenamente com o Governador pelo Panamá, é a aprovação de um novo esquema de
financiamento, o qual vai reger as operações do Banco durante o início de seu segundo
cinqüentenário.
Assumimos o compromisso de contar com uma proposta de Novo Esquema
Operacional durante 2008.
Para o Banco e a Região, a definição do Novo Esquema Operacional é um
elemento tão crucial como o realinhamento já concluído. O Governador pelo Chile
indicou que devemos nos aproximar dos temas financeiros e operacionais sem olhares ou
posições rígidas baseadas em discussões passadas.
Concordo com este enfoque: devemos nos permitir um espaço para selecionar
com maior flexibilidade o tipo de instrumentos que podem ser utilizados para apoiar as
necessidades específicas de países mutuários cada vez mais diversos.
Temos a oportunidade de aumentar a substância do nosso programa de trabalho,
melhorar sua qualidade e impacto e expandir a disponibilidade e flexibilidade dos
recursos financeiros requeridos por uma Região maior e mais heterogênea, que enfrenta
turbulências conjunturais e desafios estruturais.
Gostaria de agradecer à Governadora pela Espanha sua menção do Banco como a
instituição de referência para a Região e como um interlocutor-chave e fundamental no
diálogo entre os países, o setor público, o setor privado e a sociedade civil da Região, e
desta com o mundo.
Este Banco nasceu da vocação de integração e inserção internacional de um grupo
de líderes visionários. Este é o espírito que nos reuniu uma vez mais em Miami e que
celebraremos na próxima Reunião Anual em Medellín, Colômbia, à qual os convidamos
desde já.
Festejaremos meio século deste projeto coletivo que é o Banco em uma cidade
pujante, renovada e que se posiciona com otimismo ante as oportunidades do contexto
global no qual nossos povos têm tanto para contribuir e ganhar.