A maioria das pessoas usa a Internet para saber das últimas notícias, brincar com jogos eletrônicos ou enviar e-mails. No Brasil, ela está sendo usada para apresentar a declaração de renda.
De acordo com uma pesquisa realizada em agosto último pelo Cadê/IBOPE, empresa de pesquisa de mercado, 58% de todos os usuários da Internet no Brasil informaram que usam esse veículo para declarar a renda. Esse número bate com o fornecido pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, segundo a qual no ano passado cerca de 3 milhões de empresas e indivíduos declararam as suas rendas via Internet, o que representa um crescimento expressivo em relação aos 700.000 de 1997.
Isto dá ao Brasil a liderança mundial nessa área e ilustra os efeitos notáveis que os investimentos em tecnologia da informação estão tendo na arrecadação e administração fiscal em alguns países da América Latina e do Caribe.
No recente seminário "Tecnologia da Informação Aplicada à Administração Fiscal: Experiências e Tendências", realizado na sede do BID, funcionários graduados de diversos governos regionais descreveram cenários quase idênticos. No final da "década perdida" de 80, os serviços fiscais operavam com um punhado de computadores antiquados de grande porte, que comprometiam a eficiência no mesmo ritmo em que a aumentavam. Sem sistemas adequados de informação, as autoridades tinham dificuldade em identificar quem estava e quem não estava pagando impostos.
Com a melhoria das condições econômicas nos primeiros anos desta década, muitos órgãos de arrecadação fiscal tentaram o salto tecnológico comprando a última geração de computadores e redes e perseguindo a meta de um processo de arrecadação de impostos e gestão fiscal que prescindisse quase que por completo do papel. Em apenas alguns anos, por exemplo, o Serviço de Administração da Receita do México saiu de quase nenhuma automatização para um sistema de 122 centros de computação conectados numa rede de 20.000 terminais, o que significa uma relação de menos de dois funcionários por computador. Novos sistemas de software permitem que os funcionários da receita acessem de qualquer lugar a "conta única do contribuinte", um arquivo de computador que contém todas as informações relevantes sobre um contribuinte individual. Os participantes do seminário da Argentina, do Brasil, da Bolívia e do Chile descreveram investimentos em uma escala comparável.
Além de adotar sistemas de contabilidade e controle internos que facilitam as tarefas administrativas, cada um desses países tem usado a tecnologia da informação para reduzir a quantidade de papel (e os atrasos correspondentes) associada com a declaração de impostos. De acordo com Pedro Luiz Bezerra, coordenador de tecnologia da informação da Secretaria da Receita Federal do Brasil, em 1992 a sua repartição começou a estimular os contribuintes a apresentar declarações de renda eletrônicas em disquetes de computador (com um software grátis do governo). Os contribuintes aderiram rapidamente a essa alternativa, que acharam menos demorada e sujeita a erros do que os formulários em papel. Pedro Luiz completou dizendo que a experiência anterior com disquetes deixou os contribuintes brasileiros ainda mais dispostos a mudar para a declaração via Internet quando esta foi introduzida em 1997.
Nem todos os países adotaram a Internet com a mesma volúpia do Brasil. A Argentina optou por um sistema semi-automatizado de formulários de imposto para leitura por máquina que as pessoas preenchem nas agências locais dos bancos. Os formulários são depois escaneados e carregados na rede de computadores. As autoridades tributárias mexicanas estão interessadas na declaração via Internet, mas só agora começaram a oferecer essa opção.
Funcionários presentes ao seminário falaram também das lições aprendidas a duras penas sobre os prós e os contras da "terceirização", ou contratação de serviços de tecnologia da informação, por oposição à sua internalização nos próprios órgãos da receita. Representantes do México e da Argentina, que optaram pela terceirização, afirmaram que as companhias privadas de tecnologia em geral podem fazer um trabalho melhor de instalação e manutenção de hardware e software. Mas alertaram que as compras desses serviços devem ser sempre abertas e competitivas, para evitar conflitos de interesse, e que os termos do contrato devem deixar claro que o controle de estratégias, operações e pessoal está nas mãos do governo.