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Nada de obsoleto na música antiga

Os músicos da Bogotá do século XVII não precisavam de guitarras elétricas nem de baterias brilhantes para manter o seu público movendo-se ao ritmo da música. Embora a música da Renascença e do começo do Barroco - particularmente a música de igreja - seja freqüentemente considerada austera e inacessível, boa parte dela desmente essa imagem.

Para prová-lo, em setembro um grupo de músicos jovens e animados executou um programa de música latino-americana antiga na sede do BID em Washington, D.C. que fez o público que lotou a sala marcar o ritmo com os pés.

O grupo chamado Música Ficta ("ficta" referindo-se à prática renascentista de usar acidentes para impedir intervalos proibidos por razões harmônicas ou simbólicas), composto de sete membros, fazia sua primeira apresentação nos Estados Unidos, depois de ter-se apresentado na América Latina e na Europa. O concerto foi patrocinado pelo Centro Cultural do Banco.

Música de igreja animada? "Pense nela como música gospel", diz o diretor do Música Ficta Carlos Serrano. As peças eram muitas vezes executadas nas procissões e os seus ritmos fortes e não raro sincopados mantinham os fiéis em movimento. Dentro da catedral, os paroquianos ocasionalmente chegavam até mesmo a dançar.

Segundo Serrano, a Igreja não se podia dar ao luxo de apresentar uma música maçante. Uma das principais missões dos espanhóis no Novo Mundo era converter os povos indígenas ao catolicismo e a música constituía boa parte da atração da Igreja. De fato, os espanhóis ensinaram os indígenas a tocar e fazer instrumentos musicais, da mesma forma que os ensinaram a pintar cenas religiosas.

Da mesma forma, Serrano e o seu grupo estão convertendo públicos modernos, atraídos pela aparência e pelos sons exóticos das réplicas dos instrumentos antigos que usam. A batida de um tambor coberto de couro marca o ritmo para a dulciana, um precursor do fagote, que toca a linha melódica básica, enquanto uma vihuela, instrumento parecido com um violão, faz os acordes. Uma charamela de palheta dupla e um par de flautas doces alternam solos com os cantores.

É um desafio dominar esses instrumentos singulares, como também o é encontrar partituras de músicas antigas. Embora more a apenas algumas quadras da catedral de Bogotá, um dos mais completos repositórios de material original da América Latina, Serrano não conseguiu até agora ter acesso a essa coleção. A maior parte da música que o seu grupo toca vem de arquivos nos Estados Unidos, particularmente do acervo da Universidade de Indiana em Bloomington, onde o grupo está estudando no Instituto de Música Antiga.

Os pioneiros do movimento em prol da música antiga foram a Inglaterra e a Holanda. Daí ele se espalhou para o resto da Europa e para a América do Norte na década de 70. A Argentina é o principal centro latino-americano de música antiga, seguida pelo Brasil e pelo México.

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