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Máquinas no jardim

Roger Hamilton

ACRE, BRASIL — Uma árvore acabou de ser derrubada numa floresta tropical. Sua perda será apenas mais um passo no processo implacável de desmatamento? Ou seu valor como produto de um ecossistema natural ajudará a assegurar a sobrevivência de longo prazo da floresta?

Se a tora for simplesmente transportada rio abaixo para ser processada em outro lugar, ela não trará praticamente nenhum benefício para a economia local. “Se exportamos troncos de árvores, estamos exportando nossa riqueza e criando empregos em outras partes”, disse um funcionário do governo do estado do Acre, no oeste da Amazônia brasileira. E, se isso acontecer, o plano governamental de criar para o Acre uma economia baseada na floresta natural sustentavelmente manejada não se concretizará.

O governo do estado do Acre decidiu que a campanha para provar o valor econômico de longo prazo da floresta precisa ser desenvolvida não só na própria floresta, mas também nos parques industriais. Com isso em mente, o governo criou um parque industrial nos arredores de Rio Branco, a capital do estado, que está complementando projetos de manejo florestal em andamento em florestas estaduais e comunitárias e em terras de propriedade privada.

Imagem removida.Uma nova cadeira combina a beleza das madeiras do Acre com o talento do designer.

O parque é constituído de 12 grandes galpões industriais que empresas privadas estão equipando para produzir mobília, pisos e outros produtos de madeira. O estado concede US$68.000 a cada empresa para ajudá-la a iniciar as operações, além de benefícios fiscais e outros incentivos

As empresas também estão recebendo apoio estratégico da Fundação de Tecnologia do Acre, a FUNTAC. No centro de projetos da FUNTAC, os visitantes podem experimentar móveis modernos de inspiração européia fabricados com madeira certificada proveniente de florestas manejadas do Acre. A fundação também oferece às empresas instalações para secagem de madeira e afiação de ferramentas, além de aulas para trabalhadores e serviços de marketing.

A meta é a qualidade. Por exemplo, a madeira para pisos deve ter exatamente 8% de teor de umidade. Se não tiver, o piso se deformará depois de instalado, e isso prejudicará a reputação da empresa e da madeira certificada do Acre.

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Um mestre em marcenaria orienta um estudante numa escola para artesãos perto de Rio Branco.

Pioneira em tecnologia. A FUNTAC teve como um de seus fundadores o atual secretário de Planejamento do Acre, Gilberto Siqueira. Quando se mudou para o Acre 20 anos atrás, Siqueira percebeu que as políticas públicas referentes a tecnologia vindas de Brasília tinham pouca relevância para o Acre. Reuniu, então, um grupo de colegas engenheiros e, com o apoio da Universidade de São Paulo, eles criaram um centro de tecnologia no estado. Na época, Siqueira não estava interessado em manejo florestal e conservação. Mas isso não tardou a mudar. “Quando nós, engenheiros, trabalhamos com uma ponte de madeira ou com uma casa de madeira, estamos trabalhando com a floresta”, disse ele. Seu grupo começou a se relacionar com os seringueiros locais. “Ficamos bons amigos de Chico Mendes e passamos a conversar sobre o que poderíamos fazer juntos”, lembrou.

O Acre era, então, um lugar muito diferente. “Tivemos muitas dificuldades”, comentou. “O governo nos considerava um punhado de malucos, ou até mesmo um punhado de comunistas.” Porém, ao associar a floresta com a tecnologia, eles criaram as bases do que viria a se tornar o impulso do governo atual para a criação uma economia baseada no ecossistema florestal acreano.

“Estes foram os ingredientes básicos: nossa ação inovadora e a integração com a floresta, a tecnologia e as comunidades tradicionais”, disse Siqueira.

O campus de pesquisa da FUNTAC, em outra parte de Rio Branco, é composto de um vasto conjunto de prédios, alguns novos, em construção, outros em reforma. Cada prédio é dedicado a um produto específic concreto, madeira, solo, asfalto, cerâmica e combustível biodiesel de óleo extraído de frutos de palmeira obtidos na floresta. Outro prédio abriga um centro de imagens de satélite. O objetivo de todo o centro é prestar serviços ao setor privado do estado.

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