Notícias

Do físico à física: infraestrutura escolar e resultados educacionais na América Latina

A região precisa melhorar suas escolas, de acordo com um novo estudo do BID

A qualidade da infraestrutura escolar influencia de maneira significativa a aprendizagem dos alunos latino-americanos e caribenhos, de acordo com um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre as deficiências das escolas da região. 

O estudo, Infraestructura Escolar y Aprendizajes en la Educación Básica Latinoamericana: Un análisis a partir del SERCE, realizado em 2006, baseou-se em dados de uma pesquisa da UNESCO que examinou o desempenho de quase 200.000 alunos de terceiro e sexto ano em 3.000 escolas de 16 países da região. 

O SERCE revelou graves deficiências de infraestrutura e serviços básicos em muitos dos estabelecimentos de ensino, com grandes diferenças entre as escolas urbanas e rurais e entre as privadas e públicas. As pontuações dos alunos em provas de leitura e matemática foram mais baixas nas escolas mais deficientes. 

Embora as ligações entre infraestrutura escolar e resultados educacionais tenham sido minuciosamente estudadas em países desenvolvidos como os Estados Unidos, na América Latina, até pouco tempo atrás, não havia dados suficientes para conduzir uma análise comparativa. 

Depois de analisar as informações do SERCE, os autores do novo estudo concluíram que a melhoria da infraestrutura das escolas mais deficientes, acrescentando, por exemplo, uma biblioteca, um laboratório de ciências ou uma sala de informática, ajudaria a reduzir a defasagem acadêmica em relação às escolas mais bem equipadas.  

Diferenças nos resultados da prova de leitura com mudanças nos índices de áreas acadêmicas e pedagógicas

    

“Os governos latino-americanos tiveram sucesso em seus esforços para ampliar a cobertura escolar”, disse Jesús Duarte, especialista principal em educação do BID e um dos autores do novo estudo. “Mas, agora que as crianças têm acesso à escola, é preciso dar atenção às instalações dessas escolas e aos recursos físicos de que elas dispõem paramelhorar a aprendizagem. Nosso estudo mostra que ainda há muito a fazer nessa área”. 

Por exemplo, se tivessem uma infraestrutura melhor, os alunos de uma escola urbana atualmente com instalações inadequadas poderiam passar de um resultado médio de 506 pontos a 525 pontos em provas de leitura e de 497 a 524 pontos em matemática. Para estudantes de escolas rurais, a pontuação média poderia subir de 465 para 487 em leitura e de 480 para 497 em matemática. Nas provas do SERCE, 20 pontos adicionais significam um quarto da defasagem entre um nível insuficiente de aprendizagem e um nível adequado. 

Nas escolas urbanas, os investimentos deveriam priorizar a construção de bibliotecas, laboratórios de ciências e salas de informática ou espaços de uso múltiplo. Nas zonas rurais, ainda é preciso resolver grandes déficits de serviços básicos, como a falta de acesso a água potável, banheiros, saneamento básico, eletricidade ou telefone. 

Carências graves

Os dados do SERCE, coletados em 2006, revelam um quadro preocupante da situação da infraestrutura escolar na América Latina e no Caribe. Cerca de 88% das escolas não tinham laboratórios de ciências, 73% não tinham refeitório, 65% não dispunham de salas de informática, 63% não contavam com espaços para reuniões e salas para os professores, 40% não tinham biblioteca e 35% não ofereciam nenhum espaço para a prática de esportes. 

Além disso, uma em cada cinco escolas não tinha acesso a água potável e duas em cada cinco não estavam ligadas à rede de esgotos. Pouco mais da metade não possuía linha telefônica e um terço não dispunha de banheiros em número suficiente. Um em cada 10 estabelecimentos de ensino não tinha eletricidade.  

Como são a infraestrutura e os serviços básicos nas escolas da América Latina?

            

Por países 

Com exceção da Costa Rica, os países da América Central eram os que apresentavam as maiores deficiências gerais, seguidos por Paraguai e Equador na América do Sul. Em contraste, Chile, Argentina e Uruguai tinham as melhores condições de infraestrutura. México, Brasil e Colômbia ficaram nos índices médios. 

A conexão à energia elétrica era o serviço público com cobertura mais ampla nas escolas latino-americanas. No entanto, observaram-se carências importantes na Nicarágua, onde quase 60% das escolas não contavam com eletricidade. No Peru, esse déficit era de 44% e no Panamá e Guatemala aproximadamente uma em cada três escolas não tinha luz elétrica. 

Embora cerca de 80% das escolas da região tivessem água potável, havia deficiências sérias no acesso a esse serviço em quase todos os países da América Central (novamente, com exceção da Costa Rica) e na Colômbia, Peru, Equador e Paraguai. 

As escolas em geral tinham um acesso muito ruim a sistemas de esgotos, mas a situação era mais crítica na Nicarágua, Paraguai, Guatemala, Peru, Panamá, República Dominicana e El Salvador. 

Metade das escolas da região não tinha telefone. Quase 70% apresentavam número insuficiente de banheiros. Enquanto em Cuba e no Chile mais de 90% das escolas contavam com salas de informática, os outros países estavam bem atrás. 

Em quase todos os países da região havia uma falta generalizada de ginásios de esportes e auditórios. 

Rurais x urbanas 

O SERCE também mostrou diferenças muito grandes entre escolas rurais e urbanas. Por exemplo, 81% das escolas urbanas privadas dispunham de salas de informática, enquanto menos de 13% das escolas rurais contavam com esse espaço. 

As defasagens no acesso a serviços básicos eram ainda maiores: praticamente todas as escolas urbanas privadas tinham acesso a água potável, eletricidade e telefone, ao passo que apenas 65% das escolas rurais tinham água potável, 80% tinham eletricidade e 17% dispunham de linha telefônica. 

“Essas deficiências reduzem o potencial da escola de aliviar ou compensar as desigualdades que as crianças já trazem de fora, uma vez que muitas dessas carências também estão presentes na moradia dos alunos”, afirma o estudo. 

O BID está apoiando vários projetos de infraestrutura escolar na América Latina, com a meta de melhorar a educação e o desenvolvimento infantil na região. Entre os países onde o Banco está financiando investimentos estão Argentina, Barbados, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guiana e México.